sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O sonho de Wadjda: um olhar delicado


‘O Sonho de Wadja’ é mais um daqueles filmes bonitos, simples, mas com um roteiro fascinante e uma boa direção. Costume dizer, que o cinema do Oriente Médio tem se mostrado um dos melhores da atualidade, vide o cinema iraniano, mas o primeiro filme feito inteiramente, na Arábia Saudita, não fica atrás.

Para realizar ‘O Sonho de Wadja’ na Arábia Saudita, a cineasta Haifaa al Mansour contou com um roteiro de qualidade e teve de superar uma série de barreiras para poder concretizar seu projeto com sucesso. O filme conta a história de Wajda, uma menina de 10 anos de idade que promove algumas revoluções particulares, uma delas em especial: a compra de bicicleta em Riad, capital do país.

Logo nas primeiras cenas, Wadja sai em defesa de sua mãe, após ser insultada pelo motorista que a levava todos os dias ao trabalho. O homem reclamava de um atraso. No reinado saudita, vale lembrar, as mulheres são proibidas de dirigir, e a solução para que muitas possam se deslocar para o trabalho (com a devida autorização do marido), ao hospital, ao shopping ou ao mercado é contratar o serviço de motoristas particulares.

A forte repressão aos direitos femininos é retratada na escola de meninas em Riad. É nesse espaço que a diretora da instituição educacional chama a atenção das garotas por estarem rindo em voz alta e por estarem sendo vistas. Afinal, não é de “bom tom” que os homens sejam atraídos pela voz feminina, e muito menos que elas estejam ao alcance dos olhares masculinos. “Meninas de respeito não podem ser vistas” – é o que se diz em uma das cenas da película. São nesses tipos de sutilezas e observações inteligentes pelas quais a cineasta expressa suas críticas ao regime. Em muitas ocasiões, as mulheres são retratadas no filme como as grandes mantenedoras do sistema opressor, como é o caso da mãe de Wadja e da diretora da escola.

Ainda no ambiente escolar, as alunas deparam-se com a questão do casamento arranjado e prematuro. A própria Wadja, dentro de casa, é constantemente ameaçada pela família, caso não se comporte da maneira que julgam adequada. É também dentro do convívio familiar que o pai da protagonista ameaça ter um segundo casamento caso a mãe não consiga engravidar de um filho do sexo masculino.


Em meio a todos esses conflitos, Wadja pensa em todas as possibilidades possíveis em poder conseguir ter uma bicicleta sozinha, sem o apoio da família. Diante da chance de ganhar um prêmio em dinheiro em um concurso para recitar os versos do Alcorão Sagrado, passa a estudar com bastante empenho, a fim de atingir o seu objetivo.

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