quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Motivos para ver: Whiplash - Em Busca da Perfeição


          Whiplash: Em Busca da Perfeição conta a história de Andrew Neiman (Miles Teller), um jovem baterista de jazz cujo único objetivo na vida é chegar ao topo do seu conservatório de música. Atormentado pela carreira fracassada como escritor de seu pai (Paul Reiser), Andrew anseia dia e noite por se equiparar aos grandes gênios da música. Terence Fletcher (J.K. Simmons), um professor reconhecido tanto por sua capacidade como instrutor quanto por seus questionáveis métodos, é o regente da melhor banda de jazz da escola. Fletcher descobre Andrew e transfere o aspirante a baterista para a sua banda, mudando para sempre a vida do rapaz.

          A dedicação exclusiva de Andrew é algo que desagrada seu pai e sua família inteira - que vê sua dedicação à música como uma completa perda de tempo, mas apoia os primos que praticam rugby. Até mesmo sua namorada Nicole (Melissa Benoist), se enfurece quando ele a dispensa, contudo, sua fixação nos treinos de música não permitirá que faça algo menos produtivo como namorar.


          A inicial calma do filme é substituída pela correria e a montagem já deixa isso bastante claro. Com cortes sincronizados ao jazz somos fluidamente jogados de plano em plano, de cena em cena, acompanhando a crescente dedicação e loucura de Andrew, que cada vez mais se vê afoito pelo sucesso e seu desejo de impressionar Fletcher. E são nestas que os já citados closes cumprem suas principais funções: primeiro a de nos identificar com o baterista e seu instrumento, segundo para deixar claro e desconfortante o grau de sua dedicação, que é fisicamente transposta através do suor e do sangue.

          Nos quesitos mais técnicos, destaque para a trilha musical, a direção de fotografia e a montagem. Falar sobre a trilha musical em um filme que aborda este universo é chover no molhado; em todo caso, a trilha é totalmente composta de jazz. Mas o que enche os olhos e preenche o quadro é a exuberante e sutil direção de fotografia elaborada por Sharone Meir. O diretor de fotografia se utilizou de tons quentes, criando um ambiente visual rico, conferindo charme e elegância à película. A montagem executada por Tom Cross se sobressai nos detalhes.


          E, como se o filme não precisasse de mais motivos para ser amado, Chazelle cuidadosamente cria um impactante e inesquecível clímax, que subitamente acelera o ritmo da obra após um momento de calmaria. Trata-se de uma sequência nada menos que genial construída apenas por um solo de bateria e a interpretação conjunta de Simmons e Teller. O diretor dá o passo final de seus personagens nesse momento, de forma memorável, sedimentando, de uma vez por todas, a qualidade de seu filme que tão bem une o cinema à música. 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Motivos para ver: Garota Exemplar


Definitivamente, Garota Exemplar foi um dos melhores filmes do ano de 2014, e deveria ter sido uma das grandes apostas em todas as premiações do mundo do cinema, em 2015. Sinceramente, eu ainda não entendi o filme ter sido esnobado pela a Academia, em não indicá-lo a concorrer na categoria de melhor filme.

A película de David Fincher foi nomeada, apenas, para a categoria de melhor atriz por Rosamund Pike (????) Por que esse filme sensacional foi renegado? O filme tem um ótimo roteiro adaptado, um direção segura e coerente, cheia de detalhes, uma edição muito boa e as atuações, principalmente de Rosamund são exemplares. Deixo aqui, registrado a minha indignação por esse esquecimento, ainda mais se tratando de David Fincher que já nos arrebatou com obras maravilhosas como: Seven - Os Sete Crimes Capitais, Clube da Luta e Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres.

David Fincher realiza uma direção tão primorosa, que nos faz, definitivamente, desejar desvendar as peças do quebra - cabeça do desaparecimento de Amy Dunne (Rosamund Pike), na manhã do seu quinto aniversário de casamento, na casa que divide com o marido Nick (Ben Affleck) na cidadezinha natal dele, no Missouri. À medida que Nick vai se tornando, com os dias, o principal suspeito. A partir daí inicia-se uma maciça investigação envolvendo Nick, os detetives locais, a mídia, a opinião pública, enfim, virando tudo e todo mundo de cabeça para baixo.


O novo filme de David Fincher é uma adaptação do livro de Gillian Flynn, que cria uma atmosfera tensa, intensa, imprevisível, manipulando as expectativas do público e nos apresentando a personagens memoráveis nos surpreendendo a cada sequência.

O primeiro aspecto que chama atenção é a narrativa bipartida. Vemos Nick Dunne, após o sumiço de sua esposa e acompanhamos, então, no presente, a forma como ele lida com a situação, o que envolve sua irmã Margo e a detetive Rhonda Boney. Intercalando esses momentos de dúvida, ações suspeitas e investigação policial, temos Amy Dunne, a esposa de Nick, servindo de narradora em off, a partir de um diário, para diversas sequências em flashback, contando como o casal se conheceu e a vida de sonho que viviam até seu sumiço.


Por ser um tipo de filme, que precisa de total atenção a todos os fatos envolvidos na trama, Garota Exemplar não me permite comentar mais, devido ao fato de que qualquer pista desse texto, pode estragar a surpresa da narrativa contada por David Fincher. Os pontos altos do filme, sem dúvida, são a direção, a edição, o roteiro adaptado, e claro, a fantástica atuação de Rosamund Pike. 


quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Os melhores filmes de 2014

          
          A nossa última publicação foi há 3 meses, sim, muito tempo! Nosso blog ficou um pouco parado, mas a nossa página (click aqui para acessar) está a todo vapor. Entretanto, não poderíamos deixar de terminar o ano de 2014, que diga-se de passagem foi um ano repleto de ótimas e diversificadas produções, sem publicar e relatar os melhores filmes que assistimos, apaixonamos, rimos, choramos, nos surpreendemos ou ficamos refletindo. Tudo isso sem nenhum tipo de preconceito quanto ao país de origem, diretor, língua, atores, atrizes, drama, comédia ou animação. 

          Se eu pudesse afirmar algo, com certeza, diria que foi um dos melhores anos do nosso cinema nacional. As produções se estenderam desde suspenses a belas comédias. Sim, nós amamos e valorizamos a cinema brasileiro, que é muito rico, produtivo, diversificado e completamente nosso!

          Elaborar listas, com certeza, nunca foi e nem nunca será o meu forte! Não consigo escolher e deixar alguns de fora, contudo, eu realizei um trabalho muito subjetivo ao escrever uma lista com os filmes que mais me marcaram, ao longo do ano. Claro, que eu não assisti tudo o que desejamos, não fui ao cinema quantas vezes eu queria, não acompanhei e assisti a todos os filmes premiados e que alcançaram críticas positivas nos mais diversos festivais de cinema ao redor do mundo, então, deve ser por isso, que a minha lista tem um tom muito pessoal e nada baseada em que as grandes sites e críticos elegeram, como sendo os melhores, o que não impede coincidirem. 

          Se algum filme, ao ler a minha lista, que você tenha gostado muito não estiver aqui, sinta-se a vontade para comentar e nos mandar a sua opinião, aliás, se eu escrevo, nada mais é para compartilhar a minha opinião e receber novas indicações. Os filmes não estão listados em em rodem de preferência, e sim, em ordem alfabética. Não me julguem: listar eu até consigo, mas dizer o melhor é algo impossível e impensável, na minha opinião. Espero que gostem! Um feliz ano novo e já, já voltamos em 2015 com as nossas postagens sobres os filmes que estão ou serão indicados para as premiações que adoramos. 

          O critério de avaliação foi para os filmes que estrearam, de forma de geral e não só no Brasil, em 2014, entretanto, criei a categoria "Menção Honrosa", para agrupar 4 excelentes filmes, que são de 2013, mas que eu só consegui assistir esse ano. Leiam esse grupo como um plus da minha lista. 


Acima das Nuvens
Dirigido por: Olivier Assayas

Algo a Romper
Dirigido por: Ester Martin Bergsmark

Alleluia
Dirigido por: Fabrice Du Welz

Boyhood - Da Infância à Juventude
Dirigido por: Richard Linklater

Como Treinar o seu Dragão 2
Dirigido por: Dean DeBlois

Garota Exemplar 
Dirigido por: David Fincher

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
Dirigido por: Daniel Ribeiro

Mapas para as Estrelas
Dirigido por: David Cronenberg

Mommy
Dirigido por: Xavier Dolan

O Abutre
Dirigido por: Dan Gilroy

Os Boxtrolls
Dirigido por: Anthony Stacchi e Graham Annable

Praia do Futuro
Dirigido por: Karim Aïnouz

The Normal Heart
Dirigido por: Ryan Murphy

The Rover - A Caçada
Dirigido por: David Michôd

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
Dirigido por: Bryan Singer


Menção honrosa

Entre Nós 
Dirigido por: Paulo Morelli

O Homem das Multidões
Dirigido por: Cao Guimarães e Marcelo Gomes

O Lobo Atrás da Porta
Dirigido por: Fernando Coimbra

O Menino e o Mundo
Dirigido por: Alê Abreu

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Motivos para ver: Magia ao Luar


Escrever sobre qualquer filme do velho Woody sempre é um grande drama. Primeiro, porque eu sou muito fã do diretor e da sua filmografia, e segundo, porque exatamente por gostar muito do diretor nova iorquino, tenho sérios problemas para criticá-lo, final, que cinéfilo pode criticar Woody Allen?

Depois de me justificar, tenho que confessar que fui ao cinema com o seguinte pensamento: “bom, o último filme dele (Blue Jasmine) foi arrebatador, então, não vou esperando muita coisa não!”. Sim, eu confesso. De certa forma. Eu não estava enganado, mas o filme foi melhor do que eu esperava.

Em Magia ao Luar, Stanley (Colin Firth) é um mágico conhecido não apenas pelas suas apresentações como o personagem Wei Ling Soo, mas por dedicar o resto do seu tempo ao trabalho de desmascarar pilantras.

O pilantra da vez é uma linda jovem chamada Sophie (Emma Stone), que parece estar se aproveitando de uma família rica com o pretexto de ser médium. O que vem em seguida acaba sendo mais do que uma simples investigação e Stanley está para passar por um desafio que pode colocar em questão sua própria sanidade mental e o conceito de tudo o que acreditou até hoje.

Stone domina a comédia do filme, suas expressões e gestos são um charme e sua mistura de ingenuidade e cinismo entregam uma perfeita golpista. A seu lado, Colin Firth continua sendo o inglês amargo, entediante, rígido e estranhamente atraente que o tornou o Mr. Darcy perfeito. Os dois têm química, e Woody Allen lembra porque é, do alto de seu pessimismo, um gênio das comédias românticas.

Magia ao Luar parece caminhar para uma aceitação do desconhecido, a permissão da dúvida de que talvez exista um “mundo invisível”, mas não. Allen pode até permitir que personagens sejam felizes, mas ele jamais deixará que isso seja conquistado às custas da consciência da crueldade do mundo. É tudo muito cruel, mas é preciso tentar ser feliz assim mesmo – esse filme, que é ao mesmo tempo o mais agradável e mais denso da atual fase do diretor, parece dizer.

É a habilidade em casar a discussão filosófica complexa com um andamento fluido e piadas divertidas que fez de Woody Allen um cineasta memorável. Magia ao Luar é, em algum sentido, filosófico, mas embalado em um ritmo ágil, atores carismáticos e o belo cenário do sul da França. A sensação ao fim da sessão é de um filme adorável e ao mesmo tempo de grande esforço mental.


Magia ao Luar, portanto, se caracteriza como a típica diversão de final de semana. Não é uma obra de arte, mas consegue divertir os espectadores, O filme é Colin Firth, Woody sabe disso, e claro, aposta no ator britânico, mas eu ainda senti que falta algo que me ligasse ao filme. Nesse sentido, eu tenho que admitir que nossa tese inicial teve êxito: depois de Blue Jasmine, algo não tem memorável assim. 


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Motivos para ver: Praia do Futuro

          
          Difícil escrever sobre este filme. Não é do tipo que tem uma história pronta e personagens de fácil compreensão. Acredito que assim como qualquer obra de arte, "Praia do Futuro" poderá significar coisas diferentes para outras pessoas, cada um verá algo, sentirá algo, não há uma única maneira de encará-lo e compreendê-lo, portanto, naturalmente, uns poderão amá-lo, outros, odiá-lo, consequência desta trama que é tão subjetiva, tão ampla, tão aberta. Escrevo aqui, o que vi, e só digo de antemão, fiquei extasiado.
E como era possível de se esperar, visto que estamos falando de um filme de Karim Ainouz, trata-se de um longa que te propõe uma trama forte, que não te poupa de nada que faça parte daquele universo, que não possui nenhum tipo de filtro, mas que também recompensa aqueles que estiverem dispostos a acompanhar a sua trajetória sem preconceitos.

          A trama é dividida em três capítulos, O Abraço do Afogado, Um Herói Partido Ao Meio e Um Fantasma Que Fala Alemão. Nome sempre citado entre os mais importantes do cinema brasileiro, Karim Ainouz está de volta com o seu filme mais sofisticado. Caracterizado por seu cinema cru, de difícil digestão, Praia do Futuro representa um amadurecimento do diretor, que permanece com a sua linha naturalista ao extremo, sem pudores, mas com uma consciência maior do que e como mostrar.

          Praia do Futuro começa com o dia em que o salva-vidas Donato (Moura) perde para o mar pela primeira vez. Na tentativa de socorrer dois turistas alemães, apenas um sobrevive e, assim, começa a ligação do protagonista com o alemão Konrad (Schick), que faz Donato trocar Fortaleza por Berlim. Donato se muda para a cidade de inverno cinza e frio, longe do mar cearense e também de Ayrton (Barbosa), seu irmão mais novo.


          Donato abandona completamente o passado para se adaptar e viver uma vida em que sua personalidade não esteja atrelada ao que os outros projetam nele. Praia do Futuro mostra de maneira sensível e contundente a liberdade  que a mudança proporciona. E a fotografia que contrasta as cores do Nordeste brasileiro com a frieza do clima alemão também dá conta dessa transformação.

            Muito do sucesso do filme se deve aos seus personagens, todos extremamente bem construídos com seus dilemas e temores. Donato que pode até vender uma imagem segura no início do filme, parece desde sempre insatisfeito, como se alguma coisa estivesse faltando na sua vida. Aliás, pertencimento é uma ótima palavra para definir o que se passa na cabeça de Donato, pois na maior parte do tempo ele não parece saber dizer a que lugar pertence. Pertence a água? Pertence a praia? Pertence a Berlim? Difícil dizer!

         
A fuga e o abandono, temas que Aïnouz aperfeiçoou na sua carreira sob uma perspectiva feminina, em O Céu de Suely e Abismo Prateado, ganham aqui contornos mais pessoais e ajudam a mostrar a vulnerabilidade dos personagens, e, de certa forma, humanizam o salva-vidas, visto pelo irmão mais novo como um super-herói.

          Uma marca do roteiro são as inúmeras elipses, algumas bem radicais, que pontuam todo o filme. Ao mesmo tempo em que elas abrem para o espectador a possibilidade dele imaginar os acontecimentos suprimidos, também provocam pequenos choques pelas quebras inusitadas das expectativas usuais .

          Lidando com o tema da homossexualidade sem sentir a necessidade de incluir passagens que discutam o preconceito, Praia do Futuro traz indivíduos bem resolvidos quanto à própria orientação sexual.  Por outro lado, aos poucos o filme leva o espectador a perceber de maneira sutil que talvez o personagem de Wagner Moura não experimentasse exatamente a paz de espírito que buscava demonstrar, o que se torna, de certa forma, motor da narrativa. Ainda que se mostre feliz por estar com Konrad, aqui e ali notamos a inquietação do protagonista.


            Retratando a humanidade e o caráter de Donato através de pequenos momentos, Wagner Moura ainda exibe uma integridade artística admirável ao não hesitar em se entregar às sequências de sexo, que são fundamentais para que percebamos a magnitude da atração entre os dois amantes. A mesma integridade, claro, vale para Clemens Schick, que ilustra bem o afeto de Konrad pelo outro e sua dor diante dos obstáculos que enfrentam. Jesuíta Barbosa é uma revelação, o filme alcança seu melhor momento quando o ator entra em cena. O encontro entre os dois irmãos é memorável, e a tensão e comoção que existe no olhar dos dois atores é a prova do quanto compreenderam seus personagens e quanto deram o melhor por eles.


           Mais do qualquer coisa é um filme de sensações, onde as imagens e os sons causam impacto, tristeza, emoção,  muito sentimento, é muito humano ao relatar as fragilidades de seus personagens, é complexo, é profundo. É também um filme introspectivo, silencioso, intimista, melancólico, é delicado ao mesmo tempo em que é puro caos, é seco ao mesmo tempo em que é poético, fala de coragem através daqueles que sentem medo, fala de amor através daqueles que são brutos, fala de ira através daqueles que esperam por um abraço. Vi uma obra como poucas, vi um cinema nacional como quase nunca tive a oportunidade de ver e sentir. Um trabalho de arte, um filme a ser lembrado.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Motivos para ver: Malévola


          Uma das grandes mudanças que o mundo cinematográfico vem vivendo, diz respeito ao cada vez mais inexistente uso daquela ideia maniqueísta de separar claramente o bem do mal. Víamos muito isso em filmes infantis, sobretudo os da Disney, onde detectávamos bem rapidamente quem seria o vilão e quem seria a mocinha da história. Algumas produções mais recentes buscaram então humanizar os vilões, ou então tornar mais reais os mocinhos, diminuindo aquele tom idealizado que eles sempre carregavam. Definitivamente, Malévola nos apresenta essa nova proposta. O que a Disney fez foi simplesmente subverter totalmente esta ideia enraizada de que a personagem principal deste filme seria uma vilã má (com seus motivos, mas ainda assim, uma vilã) e tornou a Malévola de 2014 a grande heroína da história, o grande exemplo a ser seguido.

          Malévola traz a história não contada da vilã mais icônica da Disney, do clássico de 1959, A Bela Adormecida. Uma bela e ingênua jovem com atordoantes asas negras, Malévola (Jolie) leva uma vida idílica, crescendo em um pacífico reino em uma floresta, até o dia em que um exército invasor de humanos ameaça a harmonia da região. A fada surge como a mais feroz protetora da região, mas acaba sendo vítima de uma impiedosa traição — um acontecimento que começa a transformar seu coração outrora repleto de pureza em pedra. Determinada a se vingar, ela enfrenta uma batalha épica contra o rei dos humanos e, como consequência, amaldiçoa sua filha recém-nascida, Aurora (Elle Fanning). Conforme a menina cresce, Malévola percebe que Aurora é a peça essencial para estabelecer a paz no reino — e para a sua própria felicidade.

          O sentimento de vingança que leva Malévola a colocar o feitiço em Aurora é bastante compreensível e decorrente da traição sofrida por ela pelo seu então melhor amigo, que viria a ser o Rei. Ainda assim, esse sentimento é anulado com o passar do tempo e com a convivência das duas, a ‘vilã’ e a ‘mocinha’. E ainda, em todos os momentos da história – do início até o seu final, Malévola somente reage, nunca age por livre e espontânea vontade de fazer o mal.

          Linda Woolverton (‘O Rei Leão’) teve a coragem criativa de alterar a clássica história, entregando uma personagem muito mais profunda e tridimensional que aquela que conhecíamos no conto secular. A origem de Malévola como uma personagem feminina do mal nunca foi clara no desenho original, dando liberdade para que a roteirista pudesse fundamentar seus motivos em fatos passados. Malévola não é má, e sim uma mulher com o coração ferido. Suas ações e atitudes são extremamente bem transpostas para a tela por uma sensual e segura Angelina Jolie. Envolvida com a produção desde seu início, a atriz soube construir sua Malévola de maneira esplêndida, tomando a liberdade criativa para que a personagem tivesse um embate interior entre o vilanesco e o heroísmo.

          E por fim, o amor verdadeiro que se tornou um elemento bem icônico na história da Bela Adormecida, nesta versão da história, é dado por ninguém mais, ninguém menos que… a própria Malévola. Mais heroína que isso impossível. O ponto alto do texto é subverter o significado de “Amor Verdadeiro”, demonstrando que este pode ser muito mais grandioso que um príncipe encantado apaixonado. ‘Malévola’ é um filme feminista, e este é seu grande acerto.

          Sim, Angelina Jolie reina quase que exclusivamente no filme. Nota-se que desde o início, essa era a intenção, pois a quantidade de closes em seus lindos olhos é bastante significativa. Angelina ao menos faz a ida ao cinema valer a pena. O visual, ao lado de Jolie, é o grande acerto da produção.

          O Calcanhar de Aquiles da produção é seu roteiro, que alterna entre o genial e o tedioso, e chega a dar sono em alguns momentos menos inspirados. Apesar de conseguir amarrar a maior parte das pontas soltas – menos o motivo de uma garotinha do bem chamar Malévola, percebemos que o texto tem as suas lacunas visíveis. 

          Malévola é fruto de uma nova safra da Disney que repensa seus clássicos para educação de uma nova geração, descartando arquétipos de princesas frágeis e heróis galopantes que salvam o dia com um beijo. Depois de Valente  e Frozen, foi vez da rainha das vilãs revelar ao público que existem outras formas de “amor verdadeiro” além daquelas que oferecem os príncipes encantados. Ainda que a intenção seja louvável, na pressa para criar uma nova moral, Malévola esqueceu-se de contar uma boa história.


Fontes
Omelte: http://omelete.uol.com.br/malevola/cinema/malevola-critica/#.U6GttpRdUuc
Rondonia Dinamica: http://www.rondoniadinamica.com/arquivo/critica-do-filme-malevola,70625.shtml
Cabine Cultural: http://cabinecultural.com/2014/06/05/critica-malevola-so-que-nao/

domingo, 27 de abril de 2014

Motivos para ver: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho


          Primeiramente, antes de começar a escrever sobre o filme, eu vou justificar qualquer ação que pareça um "melação", mas se você não assistiu ao filme não vai saber, e você que assistiu ao filme, com atenção, vai entender que todas as minhas palavras e elogios são completamente justificáveis, tendo em vista, que o filme, em minha opinião, é de uma delicadeza pura e simples.
          Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no último Festival de Berlim, o filme é baseado no curta de 2010 Eu Não Quero Voltar Sozinho, dirigido por Daniel Ribeiro, que ganhou prêmios em festivais e depois repercutiu no YouTube, onde tem quase 3 milhões de visualizações, que também assina a direção e roteiro do longa. Se trata de um caso raro no cinema nacional, que sem uma divulgação forte e sem o selo "Globo Filmes", acabou tendo como sua maior publicidade, seu conteúdo, e a curiosidade que foi surgindo no boca-a-boca. Com sua simplicidade e delicadeza, o filme tem tudo para ganhar mais espaço e merece, é um trabalho admirável, sensível e bastante humano.A melhor forma de descrever Hoje Eu Quero Voltar Sozinho seria dizer que trata de amor.
          Com mais tempo e mais recursos, o diretor pode explorar de forma sensível a sexualidade e as dificuldades para conquistar a independência de Leo (Ghilherme Lobo), um adolescente que nasceu cego. O filme teve sua estreia na mostra Panorama do Festival de Berlim e foi fortemente aplaudido pelo público. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho não é um filme sobre aceitação, é um filme extremamente sensível sobre o que faz do amor, amor, não importa como for.
          A ideia é exatamente a mesma do curta-metragem. A diferença agora é que os personagens são mais velhos (e os atores, obviamente, também) e assim a trama ganha outras nuances, amadurecimento e maior complexidade. Acompanhamos a vida de Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente cego que precisa lidar com a super proteção de seus pais enquanto luta por ganhar mais independência, é onde nasce o desejo de fazer intercâmbio, viajar para longe, ter outra vida. Tem o apoio constante de sua melhor amiga, Giovana (Tess Amorim), com quem sempre relata o que pensa e sente. Porém, tudo muda com a chegada de um novo aluno no colégio em que estudam, Gabriel (Fabio Audi), que acaba despertando novos sentimentos nos dois amigos, principalmente em Leonardo, que acaba conhecendo um pouco mais de si, mais sobre sua sexualidade.
          Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é aquele tipo de filme extremamente simples mas que que acaba dizendo muito, é de fato, sobre muitas coisas. Não gosto e não quero rotular a obra com apenas "filme com temática homossexual", sim, é também sobre isso, sobre a descoberta, entretanto, ele vai além. A maneira como o roteiro insere seus personagens neste contexto é de uma delicadeza admirável, nos relata este momento de encontro, de descobertas pessoais, de novos desejos, é interessante e bastante original a forma como Daniel Ribeiro expõe a sexualidade dos protagonistas, ele aposta numa abordagem mais intimista, ignora os estereótipos, a descoberta não é exatamente sexual, é uma questão de afeto, de sentimentos, e esta é a beleza da obra. Não deixa de ser, também, sobre a adolescência, sobre os dilemas, as dúvidas, os questionamentos, a busca constante de ser encontrado e de ser compreendido.

          Segundo meu amigo Leandro, que deu sua opinião ao ler esse texto: "um filme que não tem nada de sexual, um filme sem rótulos, sem temática. A vida simples de um menino cego que aceita sua condição e que descobre sua paixão de adolescente, sem conflitos existências e sem dramatização. Porque um dia, todos vão entender que amar alguém é um sentimento que não precisa ser diabolicamente conflituoso. Um filme lindo, simples e soa quase como um poema."