sexta-feira, 23 de março de 2012

O Cinema Novo nas terras da Tropicália


“Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, essa era a simples proposta do grande movimento cinematográfico surgido no Brasil entre os anos 50 e 60, denominado Cinema Novo.
Mas o que de fato isso queria dizer?
Naquela época, influenciado pelo cinema estrangeiro, especialmente o norte americano, que girava em torno das chanchadas e das produções hollywoodianas, a produção cinematográfica nacional não possuía uma identidade própria bem definida, já que era uma espécie de cópia do estilo estrangeiro, que não se chocava em nada com a realidade brasileira da época.
Assim Glauber Rocha, com mais alguns amigos estudantes do cinema, interessados especialmente pelos movimentos europeus como a novelle vague francesa e o neo-realismo italiano, iniciam o movimento do Cinema Novo, que coloca o cinema como um meio, não apenas de entretenimento ou geração de lucro, mas como uma forma de alertar, informar e divulgar problemas sociais, despertando a curiosidade sobre as massas, além de revelar uma identidade nacional, uma cultura própria a essas classes populares.
Apesar da idéia demonstrada inicialmente parecer simples, o Cinema Novo propunha algo complexo: resgatar e divulgar a cultura nacional, valorizar o que era brasileiro. Renovando, linguagem, conceitos; rompendo com tudo que já tinha sido apresentado e tentando despertar a população de sua inércia cultural e política.
O Cinema Novo foi um movimento de extrema importância no que diz respeito à afirmação da cultura brasileira, principalmente pelo legado que deixou, possibilitando hoje a utilização desse universo audiovisual como fonte de pesquisa histórica, e especialmente como recurso pedagógico, dando margem ao despertar crítico dos indivíduos, que passam a entender cinema como um meio de comunicação, educação e conscientização, de fato, e não apenas entretenimento.
A riqueza cultural presente nos filmes, não só nos de Glauber, mas nos de Nelson Pereira, Carlos Diegues, Ruy Guerra, entre outros, dá as bases para que o cinema atual se configure como meio de produção e difusão cultural, mesmo depois do fim do movimento. Não se trata apenas de passado histórico. O Cinema Novo foi de fato um marco na história cinematográfica nacional, perpetuando seus traços inovadores, e suas idéias até as gerações atuais, como por exemplo, o conceituado diretor brasileiro Walter Salles, que não nega a influência do Cinema Novo em seu filme Central do Brasil, especialmente da obra cinematográfica “Vidas Secas” do cinemanovista Nelson Pereira.


Recomendações de filmes

  • Rio, 40 Graus, Nelson Pereira dos Santos, 1955.
  • Os cafajestes, Guy Guerra, 1962.
  • Deus e o Diabo na Terra do Sol, Glauber Rocha, 1963.
  • Ganga Zumba. Cacá Diegues, 1964.
  • Terra em Transe, Glauber Rocha, 1967.
 Por: Leonam Monteiro

terça-feira, 13 de março de 2012

"O cinema é uma arma e uma garota"


        A França e a década de 60 são dois alvos dos amantes da sétima arte. Diretores declaram sua enorme paixão e inspiração pela cidade, o território francês é uma referência a qualquer diretor que se preze. Como na última postagem escrevi sobre a renovação do cinema norte-americano na década de 90 com Tarantino, nada mais justo em escrever também sobre uma das renovações mais importantes do mundo do cinema, que influenciou até aqui nas terras da Tropicália.
Na passagem das décadas de 50 para 60 nasce um movimento de novos roteiristas, produtores e diretores de cinema preocupados com a renovação da filmagem e o abandono da Indústria Cinematográfica Comercial. A "Nouvelle Vague" surge então na França num paralelo com o Neo-realismo italiano que traz novas caras ao Cinema. Deixo claro desde então, Novelle Vague não é exclusivamente Godard. Há nomes célebres como e Truffaut, Resnais, Chabrol, Rivette fazem parte desse cenário que não se limitou somente em criar mas também restaurar antigas obras.
Suas características primordias são a desmistificação da personagem, amoralismo acentuado, a banalidade do cotidiano posta à prova e a atenção voltada principalmente para o diretor. A coorporação do movimento não trazia apenas diretores, mas sim cinéfilos que conheciam a História do Cinema e ajudariam com a restruturação da mesma. Um exemplo é o Henri Langlois, o pai da Cinematheque.
Dentre vários rostos ilustres, como de Briget Bardot, declaro Jean-Paul Belmodo a cara da Nouvelle Vague. Este atuou nos principais filmes de Godard, como Acossado (amado por mim!) e Pierrout le Fou, uma obra que resume esse movimento francês.



         Dicas chaves de filmes (para não resumir a Nouvelle Vague somente a Godard):
* Os Incompreendidos, François Truffaut - 1959.
* Hiroshima Meu Amor, Alain Resnais - 1959.
* Mulheres Fácies, Claude Chabrol - 1960.
* O Desprezo, Jean-Luc Godard, 1963.
* Minha Noite Com Ela, Éric Rohmer - 1969. 

         E como era de se esperar, a nova onda francesa chega em terras brasileiras. Na passagem da década de 50-60, ocorreu-se uma crise nos cinemas brasileiros, principalmente em São Paulo obrigando muitos a fechar. Mesclando esse quadro de crise com influência européia e uma pitada da Ditadura, o Cinema Novo dá suas caras mostrando o que há de melhor nas Terras da Tropicália. 
         Foi a vez do Rio de Janeiro e da Bahia mostrar uma produção digna de "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça". Filmes como Rio, 40 graus de Nelson Pereira dos Santos recebe o destaque desse movimento. Outra vertente que também pertencente é captar temas da brasilidade e uma linguagem a margem da realidade social e cultural dos anos 60. 

        Dicas de nomes para entender o Cinema Novo:
                    * Cacá Diegues
                    * Joaquim Pedro de Andrade
                    *  Leon Hirszman
                    * Nelson Pereira dos Santos


O cinema argentino como marca de um país



Três palavras vêm à mente quando se fala de cinema argentino: prêmios, talento, criatividade. A cinematografia deste país ganhou um lugar no mundo. A história da indústria cinematográfica da Argentina vai da visita ao país dos irmãos Lumière até a atualidade, quando são estreadas quase sessenta obras por ano. Hoje, o país tem seu lugar reservado nos principais festivais do mundo: Berlim, Cannes, San Sebastián e Veneza. Nos últimos anos, conseguiu importantes prêmios e indicações em cada um deles.

A partir dos anos 30, a cinematografia argentina é uma das mais destacadas de toda América Latina, junto ao México e Brasil. A idade de ouro chegou com o nascimento de produtoras como, Argentina Sono Film e Lumilton. Manuel Romero, Mario Soffici, Leopoldo Torres Ríos, Carlos Hugo Christensen, Hugo del Carril e Lucas Demare são alguns dos grandes diretores desses anos, em que surgiram estrelas destacadas no mundo. No final dos anos 50 apareceram realizadores de prestígio como Leopoldo Torre Nilsson, Hugo Santiago. Duas figuras cobraram reconhecimento nos anos 60: Leonardo Favio e Fernando Solanas (Urso de Ouro em Berlim 2004, pela sua carreira cinematográfica), responsável pela emblemática, A hora dos Fornos, que narrou as incipientes lutas de resistência popular na América Latina.

Com o retorno da democracia em 1973, o mundo voltou, novamente, a estar atenta à realidade argentina, e se afiançaram autores como Adolfo Aristarain, María Luisa Bemberg, Eliseo Subiela, Miguel Pereira e Luis Puenzo, que em 1986 obteve o Oscar de melhor filme estrangeiro com A história Oficial. A filmografia nacional foi revitalizada na última década com o surgimento de jovens diretores que integram o denominado “novo cinema argentino”. O ano de 2007 representou um recorde histórico para o país, com a estréia de 92 filmes nacionais.

Caracterizada pela independência de suas produções, o cinema argentino transita entre o comercial e o alternativo. São apresentadas histórias focadas no ser humano, daquelas que poderiam ocorrer com qualquer um e em qualquer lugar do mundo, utilizando, como pano de fundo, os efeitos da crise no país. Algumas vezes, criticados por não fazerem um cinema que apresenta um engajamento político consciente e definido, os novos diretores afirmam que nunca tiveram tal interesse.

O realismo e a utilização de atores amadores consolidaram essa camada de novos realizadores, que obteve uma virada radical e despertou elogios no mundo inteiro. Iniciada por diretores como Raúl Perrone, Martín Rejtman e Esteban Sapir, a corrente consolidou- se no Festival de Mar del Plata de 1997. Pouco tempo depois, seguiram outras obras primas como Mundo Grúa (1999), de Pablo Trapero, e A ciénaga (2000), de Lucrecia Martel. O Urso de Prata no Festival de Berlim de 2004 para O Abraço Partido, de Daniel Burman, marcou a maturidade deste movimento.

Eu, particularmente, adoro o cinema argentino pelo fato dele ser envolvente e muito dinâmico, sem precisar de muitas falas ou de grandes atuações. É um cinema muito humano, que faz com que nós possamos nos identificar com seus personagens e suas difíceis histórias. O último filme argentino, que eu acabei de assistir e que também acabou de estrear no cinema brasileiro, se chama Medianeiras, na versão argentina e Medianeiras – Buenos Aires na era no amor digital, na versão brasileira. Um filme belíssimo, que como o tema já diz, trata do amor virtual e com dois personagens típicos do nosso dia-a-dia, cheios de problemas, que não se conhecem ao longo do filme inteiro, mas se encontram em um bonito final.
  
Recomendações do cinema argentino
  • A hora dos fornos, Fernando Solanas, 1968
  • Camila, Maria Luisa Bemberg, 1984
  • A história oficial, Luis Puenzo, 1985
  • Histórias mínimas, Carlos Sorin, 2002
  • A menina santa, Lucrecia Martel, 2004
Por Leonam Monteiro