sábado, 25 de janeiro de 2014

Motivos para ver: Trapaça


Nunca um título nacional, retratou tão bem um filme como Trapaça, afinal, o longa é realmente uma trapaça com o espectador. Vou explicar por que. Eu sempre pretendo ser muito sincero,  nas minhas críticas, pois pretendo passar minha impressão sobre os filmes e não a da crítica e muito menos a das pessoas. Digo isso principalmente, porque os inúmeros prêmios que o filme vem ganhando, e ainda os elogios por parte da imprensa, dão para o longa um ar de expectativa enorme, que possivelmente, se tornará frustrante para alguns ao assisti-lo. Afinal o filme não passa de uma manjada trama policial com reviravoltas no roteiro, extremamente previsível, igual a alguns que já cansamos de assistir no cinema. Não há nada de novo nem na forma de narrar, muito menos na história em si. Contudo, é um filme normal com boas atuações. 

O que está seduzindo os críticos e nisso com toda a razão, é o elenco, principalmente a ala feminina em performances poderosas. David O. Russell teve um leque de bons artistas para comandar seu show. Ousando com todo seu charme à flor da pele e vestindo roupas milimetricamente decotadas, Amy Adams cumpre muito bem sua missão no filme. Jennifer Lawrence, a atual queridinha de Hollywood, aparece na segunda metade da história e se destaca em um papel diferente de tudo que já fez na carreira. Eu, particularmente, não sou fã da atriz, entretanto, tenho que admitir que ela é a grande estrela do filme, que me permito dizer, está muito melhor do que Amy Adams. Christian Bale, que interpreta o protagonista, é o responsável pelas cenas mais cômicas ao longo da fita, méritos desse excelente ator. Jeremy Renner, faz uma breve ponta, mas também se destaca. O ponto negativo em torno das atuações gira em torno de Bradley Cooper e seu Richie DiMaso. Exagerado, quase descontrolado, possui sequências de loucura extrema que não passa um pingo de verdade.


No caso de Trapaça, o diretor além de usar um formato manjado, ainda carrega nos diálogos extensos e cansativos, principalmente por que eles não são tão inteligentes e divertidos como se pretendia. Aqui vai meu questionamento, para quem assistiu o filme: por que ele está sendo rotulado como comédia? 

A trama do filme é sobre uma dupla de trapaceiros, Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams) que são forçados a cooperar com o FBI num caso de corrupção, que inclui até membros do governo. Tudo parecia ir bem até que a mulher de Irving, Rosalyn (Jennifer Lawrence) se envolve na armação e acaba mudando as regras do jogo. A história roteirizada por O. Russell foi inspirada em Mel Weinberg, um trapaceiro real, que foi contratado pelo FBI no final dos anos 70 para auxiliar numa operação sigilosa da instituição.


Apesar do filme não ser tudo que se “pinta”, tecnicamente ele acaba equilibrando suas escolhas equivocadas, a começar pela direção de arte deslumbrante que recria o ambiente dos anos 70/80 com detalhes minuciosos perfeitamente. A edição, atualmente chamada de montagem é o grande trunfo que consegue dar agilidade para a arrastada narrativa de O Russell. Somado a isso ainda tem a bela fotografia em tons pastel que dão ao filme o ar retrô maravilhoso.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Motivos para ver: Álbum de Família / Por: Camilla Fernandes


Pra mim esse já é um dos melhores filmes do ano de 2014. Com um elenco magnífico, um roteiro que usa de clichês de forma diferente, ótima fotografia e uma boa direção, August: Osange County comove e conquista de uma forma única.
O filme conta a história das três irmãs: Barbara (Julia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliette Lewis) que se veem obrigadas a voltar para casa quando seu pai (Sam Shepard) desaparece. Somos então apresentados à disfuncional família Weston, cuja matriarca, Violet (Meryl Streep), tem câncer na boca e é viciada em drogas, especialmente comprimidos, de todos os tipos.
Barbara também está passando por problemas em sua própria família. Sua filha Jean (Abigail Breslin) com apenas 14 anos já está fumando maconha e seu marido, Bill (Ewan McGregor) teve um caso com uma mulher mais nova.
Karen é a irmã que menos parece se preocupar com a vida séria. No enterro do pai, ela apresenta Steve (Dermot Mulroney) à família e o cara não causa lá uma boa impressão assim. Apesar disso, eles vão se casar no Ano Novo e ela parece despreocupada com todo o resto.

Ivy é a mais centrada e, aparentemente, a mais controlada de todas na família. Sempre tenta agradar a todos e tomou conta de sua mãe por anos, mesmo com todo o problema do vício. Ela finalmente consegue se conectar emocionalmente a alguém, mas este é seu primo Little Charlie (Benedict Cumberbatch). Charlie é filho de Charles (Chris Cooper) e Mattie Fae (Margo Martindale), irmã de Violet.
Resolvi não dar muitos spoilers sobre o filme para que todos possam se interessar em assistir essa maravilha do cinema. John Wells faz um ótimo trabalho na direção, contrabalanceando cenas divertidas com cenas pesadas de brigas de família.
É um filme repleto de drama, mas muito gostoso de assistir. Você poderia identificar vários elementos próprios da sua família, na família Weston. Além disso, as atuações da Meryl e da Julia são dignas de palmas aclamadas de pé! Não tem como não ficar boquiaberto com as cenas das duas. Deste modo, elas fazem valer, e muito, suas indicações.

P.S.: Sou completamente apaixonada pelo Benedict e tem cena dele cantando  e tocando piano, uma música que ele mesmo compôs para o filme! Coisa perfeita de se ver!

Camilla é uma das nossas convidadas pelo blog para escrever sobre o Oscar 2014 e outros assuntos. Você também pode visitar seu blog sobre séries, The Series Factor

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Motivos para ver: A menina que roubava livros

Infelizmente eu não lembro do livro o tanto quanto gostaria para comparar (apesar de não gostar disso) então esse post vai ser dedicado (exclusivamente) ao filme mais sensível que assisti nesses últimos tempos. A menina que roubava livros foi um best-seller que ganhou o coração de muitos leitores contando a história de Liesel Meminger, que tem seu destino marcados por muitas fatalidades mas também ensinamentos sobre humanidade e conhecimento. O filme/livro se passa durante toda a Segunda Guerra Mundial e é narrado pela Morte. 

Essa narração inusitada traz muita reflexão durante toda história. Na minha opinião, poderiam ter usado melhor este artifício porque muitas vezes você esquecia a importância do narrador no enredo da vida de Liesel e no contexto geral. Eu achei incrível como captaram a sensibilidade e toda a emoção que o livro transborda, seja na fotografia de uma Alemanha cinzenta ou na trilha sonora delicada. 

A atuação de Sophie Nélisse superou todas minhas expectativas, contudo sem a união da protagonista com George Rush (O Discurso do Rei, Piratas do Caribe) e Emily Watson (Anna Karenina, Miss Potter) não teria o mesmo impacto. A sintonia de todo o elenco fez a total diferença. A Menina que Roubava Livros é um daqueles filmes que te sensibilizam, mas pode fazer as pessoas que não gostam de finais tristes odiarem. Arrisco em dizer que foi uma das adaptações mais esperadas desde 2005. Acho que foi um sucesso a capacidade de transformar 500 páginas em 2 horas, todas as principais características da história foram preservadas então se eu pudesse dar uma nota, seria 8.0 <3 

O filme estreia dia 31 de janeiro e se ainda não leu o livro não perca essa oportunidade! Deixe seu depoimento de amor (ou ódio) nos comentários! 


domingo, 19 de janeiro de 2014

Motivos para ver: Dentro da Casa


Esse filme me chamou atenção por ser eleito pelo site Adoro Cinema como o melhor de 2013. Depois que assisti, tive a certeza que Dentro da Casa (Dans la Maison, 2013) merecia muito mais destaque no circuito alternativo, devido à forma com que a narrativa nos envolve e manipula. A história gira em torno de Claudie, um menino que encanta seu professor de francês, Germain, pela forma como escreve uma narrativa sobre uma família de classe média; trazendo todos nós para dentro da casa. 

Durante o filme, vemos a necessidade de Claudie se aprofundar na intimidade da família de seu amigo de classe, Rafa, seja pela atração por sua mãe ou o sentimento de precisar continuar a escrever. Contudo, fora da casa, Germain o incentiva de várias maneiras a elaborar uma história como os grandes mestres da literatura - uma forma de compensar suas próprias frustrações. Há uma linha tênue entre a curiosidade e o voyeurismo que enxergamos no personagem do professor, onde cada (Continua...) no final da página se revela em uma completa obsessão. 

Várias interferências ao longo do filme são feitas, até mesmo pela quantidade de correções que são realizadas pelo professor afim de tornar a redação perfeita. Se trata de um filme intenso, porém nada cansativo. Mais um filme francês para despertar nossos sentidos e mexer com nossas emoções. Ao tentar proporcionar um final de acordo com a história de Claudie, somos levados para uma reviravolta incrível que me convenceu que Dentro da Casa é um filme memorável e digno de aplausos. 


Dentro da Casa foi dirigido por François Ozon e foi exibido no Festival do Rio em 2012. 



sábado, 18 de janeiro de 2014

Motivos para ver: Gravidade


Um ensaio sobre solidão, fragilidade e autocontrole. Este é Gravidade (Gravity, 2013), novo filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón.

Derramar elogios sobre Gravidade já está ficando uma coisa chata, uma vez que o filme está agradando os críticos e o público aos quatro cantos do mundo, mas não tem o que se falar sobre o filme a não ser “Gravidade é espetacular”.

A ficção científica se passa no espaço, na órbita terrestre, a 600 quilômetros de altura. Nela, uma equipe de astronautas e cientistas instala novas partes no telescópio Hubble quando chega o alerta: uma nuvem de detritos está chegando em alta velocidade à sua posição. Em minutos, toda a segurança da nave se vai - e restam apenas a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e o comandante da missão, Matt Kowalsky (George Clooney), indefesos vagando pelo espaço. Algo interessante em Gravidade é não nos apresentar aos personagens antes de toda a ação, para que o espectador possa se identificar ou sentir afinidade por eles,

Após a chuva de meteoros, Alfonso nos coloca na visão de Ryan, dentro de seu capacete e sentimos o desespero que ela está tendo. Numa atuação perfeita de Bullock, que apenas com a sua respiração nos deixa tão perdidos e desesperados quanto ela, enquanto tenta algum tipo de contato com qualquer pessoa que seja no meio do espaço e com o oxigênio abaixo de 10%.


Gravidade é, sem dúvida, o melhor filme de 2013. É inteligente, é interessante, é claustrofóbico, é delirante, é incrível. E quando menos percebemos os 90 minutos se passaram e temos um ótimo desfecho para o filme. Gravidade é um deleite técnico. A alternância entre som e silêncio amplifica o drama e a trilha sonora aflitiva de Steven Price entra apenas em momentos cruciais. A animação (o filme é quase que todo em computação gráfica) é perfeita e realista e a tensão é absolutamente constante

Cuarón encontra no espaço  o controle milimétrico de seu set. Há cenas de beleza intensa e grande significado, como os "renascimentos" da Dra. Stone, especialmente o primeiro, em que a vemos pela primeira vez como mulher, como humana, indefesa fora da casca protetora do uniforme de astronauta. Nas lágrimas sem gravidade, Cuarón aprecia a beleza da fragilidade humana - e sua tenacidade.



O filme é um dos favoritos para o Oscar e tem grandes chances em levar pra casa o Oscar nas partes técnicas, os efeitos, o som, é tudo muito realista, a ponto de um jornalista perguntar a Alfonso, em como foi gravar no espaço. Sandra Bullock, que carrega 80% do filme sozinha, também tem grandes chances de ganhar como melhor atriz, por mais que a academia não enxergue com bons olhos as atuações em ficção cientifica, mas é nítida o bom trabalho que ela apresenta em Gravidade. O filme é incrível e tem a mais espetacular atuação, que já vi por parte de Sandra Bullock, que se sobressai mais uma vez e nos trás uma das personagens mais críveis de sua carreira.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Motivos para ver: 12 anos de escravidão


"É o primeiro filme que torna impossível continuar vendendo mentiras e mistificações sobre escravidão por mais de um século", escreveu a crítica de cinema do "New York Times" Manohla Dargis. 

O filme é baseado em uma história verídica que tem como base as memórias de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), que foi raptado e vendido como escravo no século XIX. A história passa-se em Nova Iorque, sobre Solomon, um negro livre que vivia com a sua mulher e filhas e que tinha um enorme talento para tocar violino. Tentando conquistar uma vida melhor, dois homens, sequestram Solomon para que seja vendido como escravo. A partir deste momento ele é tratado como Platt e é violentamente forçado a omitir a sua identidade. É comprado pelo dono de uma plantação no Louisiana, onde passará 12 anos até ser finalmente libertado.

Nesta história fascinante e real é nos dado o lado dos negros. O lado de quem sofreu, e escreveu um livro sobre essas terríveis memórias enquanto escravo. O lado de um realizador que também é negro e, portanto, melhor do que ninguém entende a injustiça e sofrimento por que Solomon passou. Não há senhores de escravos bonzinhos, epifania de personagem branco que descobre que a escravidão (ou o racismo) é algo errado, nem flerte entre o homem branco e a escrava negra. Mostra, sem meio tom, os estupros constantes do senhor de escravos Epps (Michael Fassbender) contra sua favorita, Patsey (Lupita Nyong'o). 

Ainda que tenha participação pequena, a atriz estreante Lupita Nyong'o é igualmente responsável pelo sucesso do filme, já que sua personagem, Patsey, é a que mais sofre as agruras do fazendeiro destemperado vivido por Michael Fassbender (surtando, em sua terceira colaboração com McQueen).

Ao final, o terceiro filme de McQueen não apenas é seu melhor até aqui, mas um dos melhores dramas já realizados sobre algo que, quase 200 anos depois, segue lamentavelmente tão atual. Magnifica realização de McQueen que nos transporta para uma realidade muito dramática, com imagens fortíssimas.

12 Anos de Escravidão pode render o primeiro Oscar já dado a um diretor negro. Até pode perder para a linguagem new age do concorrente "Gravidade", mas já é o filme imperdível do ano. Aclamado por unanimidade pela crítica americana, este é um dos mais sérios candidatos aos Óscares 2014. Conta ainda com 10 nomeações aos BAFTA e 7 para os Globos de Ouro, no qual ganhou o prêmio de melhor filme dramático. “12 Anos Escravo” é talvez o filme mais sério e verdadeiro sobre o racismo nos EUA, do século XIX. Penso que se pode afirmar, que no final de 2014, este será um dos melhores filmes do ano.