quinta-feira, 31 de maio de 2012

Cinema Poético


          É no mínimo, interessante falar de um diretor ao qual você considera sendo um dos melhores, sem ser subjetivo(impossível!), mas eu vou tentar. Não vai ser uma tarefa fácil, já que Tarkovsky, não pode ser entendido somente pelo o que escrevo. Seus filmes falam por si só. O Cinema de Andrei Tarkovsky é complexo. Andrei Tarkovsky era complexo. Era um existencialista, queria conhecer a fundo a consciência do Homem. Assistir a um filme de Tarkovsky é como dialogar com a filosofia. Intimista, detalhista, racional. Entretanto, este excesso de racionalismo é, por vezes, compensado por uma dose de fantasia, o que deixa seus filmes ainda mais intrigantes.
          Começou sua carreira com o renomado “Andrey Rublev” (1966), sobre a vida do pintor russo de ícones religiosos. Considerado por muitos críticos sua obra-prima, o filme trata sobre fé e espiritualidade. Logo após veio Solaris (1972), uma profunda análise existencial que mistura ficção científica e filosofia. Em 1974 lançou “O espelho”, quase um diário de memórias do diretor, com uma narrativa amparada nas poesias do próprio pai, o que confere um ar romântico ao enredo. É neste filme que Tarkovsky atiça todos os sentidos com uma originalidade surpreendente para a época. Em 1979 lançou “Stalker”, também com traços autobiográficos, e venceu o “Prêmio da Crítica do Festival de Cannes”, em 1980. “Stalker” trata, com maestria, as relações entre os indivíduos.
          A sede pelo autoconhecimento levou o cineasta a produzir uma obra que pode ser considerada uma das mais pessoais de todo o Cinema, uma obra quase que inteiramente autobiográfica, a qual buscava conceitos absolutos como a Verdade, o Amor, a Liberdade, a Consciência.
          Por ser inspirador foi chamado de “Dostoievski do Cinema”. E pelo mesmo motivo foi alvo de uma extrema censura, sendo profissionalmente muito prejudicado na URSS, o que o levou a abandonar seu país. Porém, seus trabalhos continuaram com a mesma temática e em 1983 lançou “Nostalgia”, com o qual regressa à infância em uma verdadeira odisséia de lembranças. Seu último filme foi "O Sacrifício", de 1986, permeando temas como determinação e esperança, levando quatro prêmios em Cannes.
          O cineasta exige de seu público certa introspecção, por serem seus temas sempre enigmáticos e apoiados em correntes filosóficas. Certamente que não agrada a muitos que buscam na arte apenas um entretenimento leve, como tantos outros filmes que são assistidos e esquecidos na manhã seguinte. Mas o Cinema de Tarkovsky não pode ser esquecido. Seus filmes são poesias em película. O Cinema europeu sempre rendeu excelentes estórias. O Cinema de Tarkovsky rendeu excelentes percepções. E muitos se renderam à sensibilidade com a qual ele enxergava a complexidade do mundo.


          Particularmente, eu considero Tarkovsky um dos melhores cineastas do século XX. Sua filmografia pequena, no tamanho, é gigante em inspiração, beleza e relidade. Eu recomendo assistir todos os filmes, mas esse são dicas imperdíveis:
* Andrei Rublev - 1966
* O Espelho - 1975
* Solaris - 1972
* Stalker - 1979


sexta-feira, 11 de maio de 2012

TOP 3 DE MAIO!

Decidi todo mês fazer um Top 3 (temático) de filmes. Mas por que temático? Pra aproveitar coisas já ditas e trazer um pouco de aleatoriedade em um mesmo post, então vamos lá! Aproveitando o post anterior sobre o envolvimento de História e Cinema, separei 3 filmes que podem trazer uma nova perspectiva para quem os vê. Em primeiro lugar, pensei em filmes fácies de achar (sendo download, compra ou locadora) porque só eu sei, na verdade acho que todo mundo sabe, como é chato a procura homérica por um filme.

Sendo assim, vamos para nossa listinha que começa com "Meia Noite em Paris" do Woody Allen. Escolhi esse  filme porque além de ser do queridíssimo Woody, ganhou o Oscar como Melhor Roteiro Original de 2012 e conta uma história ~linda~ de um homem, Gil (Owen Wilson) que em busca do término de seu livro viaja para sua Era de Ouro, sendo esta a Paris dos anos 20. O melhor de tudo que não há uma desmistificação da viagem, ela acontece e ponto, o que deixa a magia muito mais intensa. Dentro dessa viagem a sua época favorita temos uma vaga percepção como Paris era uma cidade cosmopolita que recebia influências musicais, artísticas e literárias. O filme torna-se estendido com a possibilidade de conhecer os grandes nomes da vida boêmia pariense.


Segunda dica é um filme que sou perdidamente enfurecidamente apaixonada, que já torna-se até um clichê quando estou de TPM: "Orgulho e Preconceito", de 2005, com Keira Knighley (que recebeu uma indicação ao Oscar por sua interpretação) e Matthew Macfadyen, no papel do querido e amado Mr. Darcy. Baseado em uma novela de Jane Austen de 1813, "Orgulho e Preconceito" traz muito mais que um dos romances mais idolatrados da Inglaterra, ele aborda as estratificações sociais e culturais numa Inglaterra do século XIX. A esperança de uma mobilidade social a partir de um casamento bem vantajoso move a trama do filme além da relação de amor e ódio de Liz Bennet e Mr. Darcy. Para terem uma noção básica da influência desse casal, em uma pesquisa feita, as mulheres escolheram o Mr. Darcy como o terceiro homem mais desejado para um romance perdendo somente para James Bond e Superman. E outra curiosidade fantástica  é que os ingleses elegeram a novela como um dos livros mais memoráveis, perdendo somente para "Senhor dos Anéis". Coloquei aqui a refilmagem de 2005 mas este filme é regravado desde 1940, tendo até uma versão de Bollywood. Vale a pena conferir!


E o último, mas também importante, é "Maria Antonieta". Bem, o que falar desse filme? O que falar sobre a trilha sonora (perfeita) desse filme? Lançado em 2006 com a direção de Sofia Coppola, "Maria Antonieta" traz uma visão mais humanista da delfina da França em um momento tão crítico. Na minha sincera opinião, não imagino ninguém para atuar esse papel sem ser a Kristen Dust, na cena em que pronuncia a famosa frase "Let them eat cake" me arrepiei todinha... Simplesmente fantástico! Duas coisas estacadas no filme são o figurino que faturou o Oscar e a trilha sonora que conta com nomes como Radio Dept, Strokes, Adam and the ants e New Order (sim, meus senhores, New Order!). É uma das minhas trilhas favoritas e que nunca saem da minha playlist.
Posso citar aqui uma pequena curiosidade que mostra a verdadeira personalidade do filme. Em uma cena que mostra os belíssimos sapatos da rainha em relance temos um All Star de cano médio e roxo. Não precisa ler de novo, é isso mesmo! Um All Star! A explicação sobre essa sarcástica tirada foi que a Maria Antonieta não foi somente uma personalidade história, ela realmente influenciou no mundo na moda e nada melhor pra representar um símbolo de rebeldia como um All Star, certo?


Com esses três filmes que realmente sou encantada, fecho o Top #3 de maio. Espero que gostem! :-)

A revolução das fontes historiográficas.


O surgimento das produções cinematográficas ocorreu entre fins do século XIX e o início do século XX e os historiadores da época logo tratam de definir os filmes como atrações de feira. Sendo assim, não era louvável que o bom historiador tomasse como objeto de análise ou como fonte de pesquisa um produto que era considerado pelos intelectuais da época como um truque, uma falsificação, uma invenção humana. Naquele tempo a produção histórica ainda se valia do método positivista na pesquisa e ainda defendia o seguinte lema: eis minhas referências, minhas hipóteses e minhas provas.

Entretanto, também no início século XX a historiografia passou por um momento de transformação, motivado principalmente pelo surgimento do movimento dos Annales na França, liderado por Marc Bloch e Lucien Febvre. A Escola dos Annales trouxe à tona novos objetos de estudo, novas fontes e novas interpretações para assuntos outrora consagrados pela historiografia tradicional. Através desta abertura as produções cinematográficas começaram a ganhar espaço como objeto de análise do historiador. A partir de novas leituras o cinema passa a ser visto como um instrumento adepto da história ou até mesmo como um registro da própria.

É interessante percebermos as mudanças sofridas na história no que diz respeito às novas fontes utilizadas pela historiografia contemporânea, fontes essas que se diferenciam muito  das fontes “oficias” da historiografia tradicional. A nova historiografia nos dá o poder de elegermos novas fontes, e uma dessas fontes que foram apropriadas nessa nova história é o cinema.
       
Ao utilizar o cinema como fonte para a pesquisa e a analise historiográfica dentro ou fora de sala de aula, nós historiadores ou professores de historia devemos levar em consideração algumas questões com relação a obra cinematográfica. Um dos pontos que deve ser levado em consideração é a questão de que o filme não nasce com a intenção de colocar-se como fonte ou documento histórico, é preciso lembrar que o filme é uma obra ficcional, mas que como qualquer produção humana é dotada de uma carga discursiva e de intencionalidade, e cabe a nós pesquisadores da história tentar perceber até que ponto vai a obra de ficção e como o historiador pode apropriar-se dos discursos presentes na obra para analisar tal obra como fonte.
Ao eleger o filme como fonte e lembrar que a obra não se coloca como tal e cabe ao pesquisador torná-la uma fonte, é nesse processo que o historiador tenta fazê-la falar. Devemos primeiro perceber qual o recorte temporal que essa obra retrata, se for uma obra em que o recorte seja contemporâneo a sua produção, cabe ao pesquisador a partir de seu interesse analisar a obra como sendo não um retrato fiel da sociedade que ele retrata, mas como sendo uma faceta desta.

Por: Leonam Monteiro