sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tatuagem



Em Tatuagem, no Recife de 1978, Clécio Wanderley (Irandhir Santos, já conhecido e ótimo ator) é o líder da trupe teatral Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e com cenas de nudez. Neste período, o grupo teatral Chão de Estrelas realiza, em plena ditadura militar, apresentações teatrais que mesclam poesia e cabaré, repleto de cenas de nudez e muito deboche com as instituições tradicionais – família, religião etc. A principal estrela da equipe é Paulete (Rodrigo Garcia, um dos marcos do filme), com quem Clécio mantém um relacionamento.

Um dia, Paulete recebe a visita de seu cunhado, o jovem Fininha (Jesuíta Barbosa), que é militar. Encantado com o universo criado pelo Chão de Estrelas, ele logo é seduzido por Clécio. Não demora muito para que eles engatem um tórrido relacionamento, que o coloca em uma situação dúbia: ao mesmo tempo em que convive cada vez mais com os integrantes da trupe, ele precisa lidar com a repressão existente no meio militar em plena ditadura.

Esse universo encanta Fininha, soldado recém-saído da adolescência. A partir de então, o desbunde e a liberdade sexual começam a fazer parte do cotidiano do garoto, que passa a ser rechaçado pelos colegas de quartel e oprimido pela religiosidade da sua família de mulheres.

Mais uma vez a delicadeza com que são tratadas as relações afetivas no filme encanta. Esse longa não trata apenas do amor homossexual. Todas as relações dentro da trupe demonstram ser amorosas. Clécio é estritamente carinhoso com seu filho, que orbita irrestritamente esse mundo libertário junto com sua mãe. O que se vê é o apoio mútuo entre as partes. Diferente do que ocorre no quartel. Lá o amor à pátria é colocado em primeiro lugar em detrimento ao amor à família. 
Bem, logo temos a censura encrencando com o espetáculo. No contra-argumento, o pessoal da trupe se coloca à disposição para mostrar que eles não representam perigo algum pra sociedade. De nada adianta. Acabam sendo censurados por proporcionarem em suas apresentações uma dialética entre o erótico e o político cujo corpo serve às ideias. Por não obedecerem ao que lhe foi ordenado, o exército vai de encontro à trupe. No filme, não se mostra o confronto, mas se sabe que daquilo não sairá bom resultado.

Tatuagem, primeiro longa de ficção de Hilton Lacerda, está em cartaz nos cinemas brasileiros a partir desta semana. O filme levou sete anos para ser realizado. “Dizer que hoje é mais simples fazer cinema por causa da facilidade de suportes não é verdade. Até porque a banalização compromete o bom resultado”, afirma Hilton Lacerda. O diretor pernambucano diz que o longa de ficção está na pauta do que ele gosta de fazer, “estabelecer um olhar periférico. Gosto do menor no lugar do maior, você vê isso em Febre do rato (2011), Amarelo manga (2002) e Baixio das bestas (2006) – filmes que ele roteirizou, os três com direção de Cláudio Assis. Entre os principais prêmios que Tatuagem recebeu este ano, está o de Melhor Filme e Melhor Ator (Irandhir Santos) no Festival de Gramado, e Melhor Filme (voto popular), Prêmio Especial do Júri (ficção) e Melhor Ator (Jesuíta Barbosa) no Festival do Rio.




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Blue Jasmine


Muito se fala da última década de Woody Allen, que ela não está no mesmo nível de outrora, que acaba se repetindo em certas situações, e já não tem mais a mesma vitalidade de antes… Bom, acho bobagem isso. Um diretor como Allen, que lança um filme por ano desde 1982(!), manter-se atuante e relevante da forma como consegue até hoje, deve ser homenageado constantemente, sem contar o fato de que quem pensa dessa forma ignora excelentes filmes como Match Point (2005), Vicky Cristina Barcelona (2008), Tudo Pode Dar Certo (2009), e Meia-Noite em Paris (2011), que certamente se encontram entre as suas melhores obras. Pensando bem, nem precisava dessa introdução toda, uma vez que Blue Jasmine é mais uma prova do quanto Allen se mantém criativo e interessante, entregando mais um longa pra ficar registrado na sua já fenomenal carreira.

Blue Jasmine nos apresenta Jasmine (Cate Blanchett), uma mulher que desde jovem sempre quis ter uma boa vida financeiramente, cercada de luxo, e de tudo o que de melhor o dinheiro pode proporcionar. Ela casa-se com Hal (Alec Baldwin), um empresário que é muito bem-sucedido financeiramente, mas que consegue todo esse sucesso através de ações ilegais em suas empresas. Depois de muito esbanjar e cometer irregularidades, Hal acaba sendo preso, e Jasmine perde todo o dinheiro que tinha. Em tal situação, ela se vê obrigada a ir pra casa da irmã, Ginger (Sally Hawkins), a qual sempre desmereceu por não ser elegante e bem sucedida financeiramente. O que era pra ser uma rápida visita acaba se tornando uma longa estadia, o que representa um longo sofrimento a Jasmine que sonha em voltar a ter o estilo de vida que tinha anteriormente.


O filme caminha muito bem pelos dois momentos (comédia e drama), estabelecendo uma comédia que não dilui o potencial dramático, e vice versa. Temos a primeira metade, em que as situações propostas sugerem um maior grau de comicidade, ao passo que na segunda parte Jasmine segue um rumo mais denso e carregado.

Se os diálogos não são tão incríveis, a trama é. É o domínio de um exímio roteirista. E não é só o roteirista que merece os créditos, o diretor também. Desenrolando as cenas com elegância e sutileza, aproveitando-se da belíssima São Francisco, Allen emprega a sua já reconhecida sofisticada direção para potencializar ao máximo o material que possui. Intercala de maneira fluida e inteligente o antes e depois de Jasmine, e mostra-se discreto e inteligente quando o momento de destaque está no elenco. E aqui, mais uma vez, ele se mostra um exímio diretor de ator.



Mas o maior destaque, sem sombra de dúvida, fica para a… (me faltam adjetivos) gloriosa Cate Blanchett. Ela que andava um pouco sumida dos grandes personagens, graças a Deus está de volta, e me arrisco a dizer que, aqui ela encontra a melhor atuação da sua já excelente carreira. A naturalidade com que consegue estabelecer as emoções, motivações e sentimentos de seus personagens é tanta, que parece que ela “nem faz força pra atuar”. Com Jasmine, ela estabelece uma personagem cheia de defeitos, mas ainda assim, irresistível, impossível de não torcer a favor. Diferencia através de sutilezas os dois momentos de sua personagem, altiva e elegante quando rica, humilhada, envergonhada, nervosa e paranoica quando pobre. E nas ocasiões em que o papel exige maior força da atriz, em momentos, aliás, nada fáceis de se fazer sem parecer falsa e exagerada, Blanchett cumpre o seu papel de maneira brilhante, indo muito, muito além do que o papel pede.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Jogos Vorazes - Em Chamas


Depois de vencer a 74ª edição dos Jogos Vorazes, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), que se tornou o símbolo da revolução e Peeta Mellark (Josh Hutcherson) voltam para o Distrito 12, onde passam a viver na área dos vitoriosos. No dia em que os dois vão começar uma turnê feita anualmente pelos vencedores, Katniss é visitada pelo presidente Snow, que comanda Panem; ele deixa claro que ela está em risco por ter quebrado as regras dos Jogos e feito com que fosse possível que ela e Peeta vencessem, o que foi considerado por todos um desafio à Capital e inspirou o início de levantes nos distritos. Para evitar que ela e as pessoas que ama sejam punidas, Katniss precisa convencer a todos de que o único motivo de não ter tentado vencer os Jogos sozinha foi estar apaixonada por Peeta, sob a sombra do pano de fundo sociopolítico da Capital e seus desmandos.



No decorrer do percurso, Katniss sente que uma rebelião é iminente, mas a Capital continua fortemente no controle, ao mesmo tempo em que o Presidente Snow (Donald Sutherland) prepara a 75ª edição dos Jogos Vorazes: o Massacre Quaternário, uma competição que pode mudar Panem para sempre.

A espera pela seqüência de ‘Jogos Vorazes‘ aliada às qualidades de seu segundo capítulo renderam cerca de R$ 13,2 milhões nas bilheterias brasileiras em seu final de semana de estreia, quase três vezes a marca do primeiro filme, aumentando assim as apostas para um sucesso arrebatador de ‘Em Chamas‘ nas cerca de mil salas nas quais o filme é exibido.



Particularmente, essa segunda parte do filme é melhor do que a primeira. A direção é mais detalhada e focada nos detalhes, o roteiro é mais crítico. Não sou fã de Jennifer Lawrence e muito menos fico ovacionando-a, e não nego que ela é uma boa atriz vide, "O Lado Bom da Vida", mas ela ainda precisa de um tempo para se torna uma grande atriz, que Hollywood que nos fazer acreditar. Acho que do primeiro filme para esse segundo, a atriz melhorou consideravelmente, então, temos bastante pontos positivos neles.
Um outro saldo positivo, na minha opinião, foi a personagem de  Effie Trinket, que deixou de ser apenas uma auxiliadora fútil e passou a se integrar com a sua equipe.

Depois de algumas palavras, que troquei com uma amiga, que estava comigo no cinema, chegamos a conclusão, de que o filme pode ser encarado, por nós brasileiros, como o momento da manifestações que estamos vivendo no nosso país, e que a Capital está tentando sufocar. Além disso, o filme carrega todo um contexto socio-político bem interessante de ser analisado, através das atitudes em que os distritos estão submetidos. 

Então, se você ainda não conferiu o filme: VÁ e dê seu opinião, aqui no nosso blog.