quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Liberdade, Igualdade e Fraternidade?


A trilogia das cores é acaso, é amizade entre cinema e espectador. Foi um dos projetos mais ambiciosos de Krzysztof Kieslowski, feito durante uma época em que a Europa passava por grande transformação com o fim da URSS, o intenso desejo de mudança e a idéia da União Européia. Mesmo assim, o filme consegue se conectar com qualquer pessoa, independente de onde essa viva, pois, nesse caso, sentimentos e valores organizados por Kieslowski são e sempre serão universais.

           
Depois do ensaio metafísico "A dupla vida de Verônica", o polonês Krzysztof Kieslowski deixou meio mundo a seus pés com um projeto ambicioso e ao mesmo tempo absolutamente simples. A sua "Trilogia das Cores" surgiu em meados dos anos 90 como um grito quase silencioso de que ainda havia lugar para a poesia, a beleza e a emoção no cinema. Dominada pelo frenético e muitas vezes descartável cinema americano, a década de 90 experimentou um novo modelo que não só reabilitou o cinema europeu, mas também provou que o realismo, o drama humano e a sensibilidade do artista ainda podiam falar mais alto do que filmes baseados em orçamentos milionários e toneladas de tecnologias. Inspirada não só nas cores da bandeira da França, mas também nos lemas da Revolução Francesa, a sua trilogia podia ser vista como um ensaio, um reflexo da visão pessoal do cineasta polonês com relação aos processos da unificação européia da época, tanto econômica quanto política. Por isso, deve ser vista na íntegra, e na sequência original, em que, como uma peça em três atos aparentemente distintos, mas que se complementam no fim, os três filmes apresentam personagens que protagonizam cada um dos filmes individualmente, mas interagem ao longo da trilogia, até o final arrebatador, em que serão reunidos por conta de uma tragédia com implicações simbólicas e até mesmo como metáfora da situação política da Europa refletida pela ótica do próprio Kieslowski. Diretor de dramas pesados e intimistas, Kieslowiski adotou uma nova filosofia a partir do "Decálogo" no final dos anos 80, e a sua trilogia de cores representa o amadurecimento de seu cinema, a combinação de poesia e sensibilidade e o uso de personagens comuns como símbolos universais.

Em "A Liberdade é Azul", o clima predominante é o de tragédia. Bela modelo tenta o suicídio após a morte do marido e da filha num acidente de carro. Frustrada na sua tentativa, ela redescobre um novo sentido para a vida e leva adiante o projeto do marido, que era compositor: um concerto sinfônico comemorativo da unificação da Europa. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, o filme aborda a tragédia pessoal para criar um roteiro envolvente, carregado de implicações existenciais e emoções intensas. O ritmo lento, aparentemente pesado do diretor acentua de tal forma o drama da personagem que o azul predominante na fotografia se torna reflexo  da sua tristeza, que beira a depressão, a solidão e a amargura. Permite também à atriz Juliette Binoche uma atuação arrebatadora. A trilha sonora é uma das maiores composições já feitas pelo músico Zbigniew Preisner.

Cena do filme: "A Liberdade é Azul"

Em "A Igualdade é Branca", os desígnios do coração movem os desejos de vingança de um humilde polonês que volta à terra natal numa mala de viagem, enriquece e arma um plano sofisticado para se vingar da esposa, que o humilhou em Paris. Mergulhando fundo na alma humana, nos sentimentos de vingança e paixão, o cineasta constrói um conto de fadas às avessas, cínico e até mesmo cruel quando explora os sentimentos mais recônditos do ser humano, frutos do desprezo e da traição que experimentam. Tanto quanto os desejos de vingança do cabeleireiro que se torna milionário graças a métodos ilícitos, a direção sombria de Kieslowski constrói um filme seco, tão árido na emoção quanto as paisagens geladas de Varsóvia, local onde se passa a história. O frio da paisagem e a frieza dos personagens emprestam o tom à fotografia, caracterizando o vazio e o pessimismo, e a noção de que os fins justificam os meios. A igualdade de direitos do cidadão, segundo a visão de Kieslowiski, assume ares sombrios e cínicos.

Cena do filme: "A Igualdade é Branca"

Em "A Fraternidade é Vermelha", Kieslowiski surpreende já no início do filme, usando de efeitos especiais para mostrar, através dos cabos telefônicos, o trajeto de uma ligação que esbarra num telefone ocupado. É a dificuldade de comunicação entre os seres humanos em nossa época, simbolizada no sinal de ocupado de um telefone, mas também refletido no relacionamento que surge entre uma solitária modelo que vive em Genebra e um juiz aposentado e desiludido que vive recluso em casa, espionando os vizinhos través de escutas telefônicas. Incapazes de estabelecer uma comunicação a princípio, a insistência dela acaba, aos poucos, transformando a visão dele sobre si próprio, a vida e as pessoas à sua volta. A fraternidade, segundo Kieslowski, está no poder que cada ser humano tem de interferir na vida de seu próximo através da co-existência, do sentido de agir ou de não agir, na cumplicidade do simples ato de existir. O vermelho, mais presente do que o azul e o branco nos filmes anteriores, é a chama capaz de reacender a esperança diante de um novo tempo, simbolizado na cadela grávida e nos personagens que sobrevivem a um naufrágio.

Cena do filme: "A Fraternidade é Vermelha"

A proposta estética de Kieslowski é apresentar uma trilogia das cores, na qual cada uma delas esta ligada a um estado de espírito, ele busca ainda discutir como esse lema de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” se apresenta no final do século XX. A proposta estética fica nítida, pois em cada filme uma das três cores é predominante em relação às outras, como se pode notar principalmente na fotografia e na direção de arte. Das três cores: o azul é a tristeza; o branco é desconcerto do mundo e o vermelho é a relação do eu com o outro, portanto, há o conflito com os três lemas da contemporaneidade, não há liberdade, igualdade e fraternidade.

Nos três filmes, as personagens terão as suas vidas transformadas por efeito do acaso e entrarão em conflitos correlacionados com os temas/ lemas de cada cor, no caso de Julie, que acredita estar se libertando, mas, o marido ao morrer deixa uma opera inacabada, obra encomendada pelo parlamento europeu, se vê refém da música, o som está dentro dela. Carol quer a igualdade na vingança para com a sua mulher e Valentine vê todos os seus valores morais decaírem quando resolve adentrar no mundo do Juiz, e uma das coisas mais interessante dos três filmes, as três histórias coexistem no mesmo tempo, vemos personagens dos filmes transitarem entre si, coexistem num mesmo espaço, mas não se relacionam, existem e não existem ao mesmo tempo.

Kieslowski organiza o acaso, cada mínimo detalhe nos filmes se torna importante para a compreensão e o diálogo entre o espectador e a obra. Os elementos são sutis e o diretor se comunica com seu público de forma subjetiva através do uso freqüente de closes. Como, por exemplo, no primeiro filme 'A liberdade é azul', em um dos closes a personagem se encontra em um café, logo após conversar com o homem que a ama. Assim que ele a deixa, ela observa um personagem na rua e logo em seguida vemos um close em que delicadamente ela mergulha um cubo de açúcar em seu café e esse aos poucos vai penetrando o cubo fazendo um longo caminho até que seja completamente tomado.
 Cena do filme: "A Liberdade é Azul"

Seria a liberdade algo trágico? A igualdade uma comédia? A fraternidade inexistente? Perguntas com inúmeras respostas, a trilogia nos permite significações variadas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Luz, câmera e HORROR!

O cinema traz encanto em todos os seus gêneros. Principalmente na ficção científica, as viagens pelo tempo, viagens intergaláticas, viagens aos mundos mitológicos consolidam o gosto pelo desconhecido e pela aventura. E com toda essa tecnologia atual não é difícil montar um filme que não caia nas graças dos amantes do cinema. Até mesmo os seres fantasmagóricos, distorcidos, amaldiçoados, demoníacos, geneticamente modificados têm seu público fiel.
Os filmes de horror também tem o seu público queridinho que abrange todas as idades. Podemos ver esse gênero invadindo até área infantil, como o exemplo das duas estreias que irão as telonas esse ano: ParaNorman (Focus Features) e Hotel Transilvânia (Sony Pictures Animation).
No topo da pirâmide dos seres do "horrorshow" temos os vampiros. Nosferatu, Drácula, Lestat, Edward Cullen... Pois é, eles nos encantam com o jeito sedutor e imortal de ser (Tirando o distorcido Nosferatu, claro!). Cada um em sua geração deixou sua marca: O melhor filme de vampiro de todos os tempos, a atuação fenomenal de Bela Lugosi, uma história fantástica e envolvente e... bem, uma nova espécie de vampiros.


Contudo, uma nova legião de amantes Walking Dead vem mudando o quadro dos preferidos do horror e trazem os zumbis como uma nova paixão. A cada dia vemos mais posts no Facebook sobre novidades da nova temporada, invenções sobre as possíveis armas para um apocalipse zumbi, iconográficos de melhores habitações, enfim, são inúmeras as novidades para saciar essa obsessão apocalíptica.
Mas da onde veio essa paixão que a cada dia atinge mais fãs? Talvez pelo sucesso estrondoso que a série norte-americana Walking Dead, que na verdade é baseada na série de HQs de mesmo nome. Mas antes disso... BEM ANTES DISSO, temos filmes que são sucesso e super indicados, não importando a geração.

Vamos a uma sucinta lista e sua nota pelo conceituado site IMDb:
Todos os filmes de George A. Romero: Pois é, todos mesmo! O diretor é hiper conceituado no gênero de horror, tanto que os fãs consideram seus filmes um gênero próprio. Com 18 filmes na carreira seus principais filmes são Dawn Of Dead (1978) e Night Of The Living Dead (1968). Este último causou um reboliço na década de 60 e foi chamado de satanista pelo seu final apocalíptico. Ambos os filmes tem notas excelentes no IMDb, ambas 8.0.
- Resident Evil (2002): Com certeza você reconhece esse filme da série de video games eletrizantes. Após o sucesso do primeiro filme vieram mais 4, com o quinto previsto para estrear em Setembro de 2012. A história se passa com militares combatem mortos-vivos e um supercomputador fora de controle antes que um vírus extermine toda a raça humana. Nota: 6.6
- Planeta Horror (2007): Do diretor de filmes série B, Robert Rodriguez, "Planeta Terror" fica marcado na memória pela moça com uma metralhadora como perna. Um grupo de civis tentam sobreviver num apocalipse zumbi e ainda tem que lidar com uma unidade militar corrupta. Nota: 7.4

Todos os filmes foram escolhidos com o maior carinho por quem é apaixonada por zumbis. Comentem caso conheçam filmes melhores desse gênero. :-)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Monumentais - Parte 2

Continuando a nossa lista, que já teve a sua primeira parte divulgada no nosso último post, voltamos para completar esse hall de estrelas, que nos brindam diarimante, pois assistimos os seus filmes sem cansar, e completam o time dos melhores cineastas da história do cinema mundial. Particularmente, é difícil eleger o preferido entre tantas estrelas.


Krzysztof Kieslowski

Ao lado de Andrzej Wajda e Roman Polanski, Kieslowski compôe a santíssima trindade do cinema polonês contemporâneo. Construiu em torno de 30 anos de carreira uma cinematografia mergulhada nos mistérios e misérias do ser humano, nos seus medos e angústias mais profundos.





Luis Buñuel

No início da carreira, foi responsável, ao lado de Salvador Dali, por levar o surrealismo ao cinema, mas com o tempo tornou-se um mestre incomparável da farsa, um severo questionador das convenções e um incansável crítico social. A política, a Igreja e a Burguesia não escaparam às suas lentes impiedosas.

Orson Welles

Para alguns poucos, um charlatão e blefador. Para a maioria, o maior cineasta surgido nos EUA. Estreou com “Cidadão Kane”, que revolucionou a estética cinematográfica e foi eleito quase que por unanimidade o melhor filme de todos os tempos. Nada mal para um jovem rebelde e idealista de 25 anos.

Pedro Almodóvar

O mais talentoso e provocador cineasta espanhol desde Buñuel, começou sua carreira em comédias rasgadas, nervosas e exageradas, mas cresceu como cineasta competente e sensível ao emendar uma sucessão de belas obras sobre o universo feminino e consagrar atrizes como Carmen Maura, Marisa Paredes, Victoria Abril e Penélope Cruz.

Quentin Tarantino

Sanguinário, violento, ágil, irônico. Tarantino ficou conhecido na década de 90, nos EUA, por seu maravilhoso filme “Pulp Fiction – Tempo de Violência. Realiza um cinema não-linear e faz com que seus personagens possam caminhar por diferentes filmes de sua filmografia.

Sergei Eisenstein

Genial artífice da linguagem, o russo Eisenstein elevou a montagem a seu devido lugar no processo de criação cinematográfica, e hoje é lembrado apenas pelo marco da Sétima Arte “O Encouraçado Potemkin”. Porém, o filme que representa seu testamento às gerações futuras chama-se “Alexandre Nevski”.

Stanley Kubrick

Ex-fotógrafo, levou para as telas a plasticidade e o cuidadoso senso estético em filmes que primam pelo rebuscado acabamento visual, pelo controverso discurso de suas idéias e polêmicas e por suas técnicas modernas e revolucionárias. Para muitos, foi o maior mestre do cinema contemporâneo.

Vittorio De Sica

Ator em mais de cem filmes,  ajudou como diretor a popularizar o neo-realismo italiano em todo o mundo com  “Ladrões de Bicicleta”, utilizando-se de uma estética refinada e ao mesmo tempo despojada, apoiada basicamente em dramas autênticos e interpretações sinceras de atores em sua maioria não profissionais.

Werner Herzog

Ao lado de Rainer Werner Fassbinder,  Volker Schlöndorff e Win Wenders, compõe a base do então chamado “Novo Cinema Alemão”, surgido em meados dos anos 70. Seu ator fetiche era o também alemão Klaus Kinski . Cineasta de grandes ambições estéticas e temas grandiosos, continua em atividade.

Woody Allen

O rei de Nova York (onde se passa a maioria de seus filmes) revelou sua personalidade em duas vertentes: a bergmaniana (em constantes homenagens ao mestre sueco) e a cômica – esta bem mais sucedida e marcada pelo cinismo paródico e neurastênico, e pela sua visão inteligente e crítica.