quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Os melhores filmes de 2014

          
          A nossa última publicação foi há 3 meses, sim, muito tempo! Nosso blog ficou um pouco parado, mas a nossa página (click aqui para acessar) está a todo vapor. Entretanto, não poderíamos deixar de terminar o ano de 2014, que diga-se de passagem foi um ano repleto de ótimas e diversificadas produções, sem publicar e relatar os melhores filmes que assistimos, apaixonamos, rimos, choramos, nos surpreendemos ou ficamos refletindo. Tudo isso sem nenhum tipo de preconceito quanto ao país de origem, diretor, língua, atores, atrizes, drama, comédia ou animação. 

          Se eu pudesse afirmar algo, com certeza, diria que foi um dos melhores anos do nosso cinema nacional. As produções se estenderam desde suspenses a belas comédias. Sim, nós amamos e valorizamos a cinema brasileiro, que é muito rico, produtivo, diversificado e completamente nosso!

          Elaborar listas, com certeza, nunca foi e nem nunca será o meu forte! Não consigo escolher e deixar alguns de fora, contudo, eu realizei um trabalho muito subjetivo ao escrever uma lista com os filmes que mais me marcaram, ao longo do ano. Claro, que eu não assisti tudo o que desejamos, não fui ao cinema quantas vezes eu queria, não acompanhei e assisti a todos os filmes premiados e que alcançaram críticas positivas nos mais diversos festivais de cinema ao redor do mundo, então, deve ser por isso, que a minha lista tem um tom muito pessoal e nada baseada em que as grandes sites e críticos elegeram, como sendo os melhores, o que não impede coincidirem. 

          Se algum filme, ao ler a minha lista, que você tenha gostado muito não estiver aqui, sinta-se a vontade para comentar e nos mandar a sua opinião, aliás, se eu escrevo, nada mais é para compartilhar a minha opinião e receber novas indicações. Os filmes não estão listados em em rodem de preferência, e sim, em ordem alfabética. Não me julguem: listar eu até consigo, mas dizer o melhor é algo impossível e impensável, na minha opinião. Espero que gostem! Um feliz ano novo e já, já voltamos em 2015 com as nossas postagens sobres os filmes que estão ou serão indicados para as premiações que adoramos. 

          O critério de avaliação foi para os filmes que estrearam, de forma de geral e não só no Brasil, em 2014, entretanto, criei a categoria "Menção Honrosa", para agrupar 4 excelentes filmes, que são de 2013, mas que eu só consegui assistir esse ano. Leiam esse grupo como um plus da minha lista. 


Acima das Nuvens
Dirigido por: Olivier Assayas

Algo a Romper
Dirigido por: Ester Martin Bergsmark

Alleluia
Dirigido por: Fabrice Du Welz

Boyhood - Da Infância à Juventude
Dirigido por: Richard Linklater

Como Treinar o seu Dragão 2
Dirigido por: Dean DeBlois

Garota Exemplar 
Dirigido por: David Fincher

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
Dirigido por: Daniel Ribeiro

Mapas para as Estrelas
Dirigido por: David Cronenberg

Mommy
Dirigido por: Xavier Dolan

O Abutre
Dirigido por: Dan Gilroy

Os Boxtrolls
Dirigido por: Anthony Stacchi e Graham Annable

Praia do Futuro
Dirigido por: Karim Aïnouz

The Normal Heart
Dirigido por: Ryan Murphy

The Rover - A Caçada
Dirigido por: David Michôd

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
Dirigido por: Bryan Singer


Menção honrosa

Entre Nós 
Dirigido por: Paulo Morelli

O Homem das Multidões
Dirigido por: Cao Guimarães e Marcelo Gomes

O Lobo Atrás da Porta
Dirigido por: Fernando Coimbra

O Menino e o Mundo
Dirigido por: Alê Abreu

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Motivos para ver: Magia ao Luar


Escrever sobre qualquer filme do velho Woody sempre é um grande drama. Primeiro, porque eu sou muito fã do diretor e da sua filmografia, e segundo, porque exatamente por gostar muito do diretor nova iorquino, tenho sérios problemas para criticá-lo, final, que cinéfilo pode criticar Woody Allen?

Depois de me justificar, tenho que confessar que fui ao cinema com o seguinte pensamento: “bom, o último filme dele (Blue Jasmine) foi arrebatador, então, não vou esperando muita coisa não!”. Sim, eu confesso. De certa forma. Eu não estava enganado, mas o filme foi melhor do que eu esperava.

Em Magia ao Luar, Stanley (Colin Firth) é um mágico conhecido não apenas pelas suas apresentações como o personagem Wei Ling Soo, mas por dedicar o resto do seu tempo ao trabalho de desmascarar pilantras.

O pilantra da vez é uma linda jovem chamada Sophie (Emma Stone), que parece estar se aproveitando de uma família rica com o pretexto de ser médium. O que vem em seguida acaba sendo mais do que uma simples investigação e Stanley está para passar por um desafio que pode colocar em questão sua própria sanidade mental e o conceito de tudo o que acreditou até hoje.

Stone domina a comédia do filme, suas expressões e gestos são um charme e sua mistura de ingenuidade e cinismo entregam uma perfeita golpista. A seu lado, Colin Firth continua sendo o inglês amargo, entediante, rígido e estranhamente atraente que o tornou o Mr. Darcy perfeito. Os dois têm química, e Woody Allen lembra porque é, do alto de seu pessimismo, um gênio das comédias românticas.

Magia ao Luar parece caminhar para uma aceitação do desconhecido, a permissão da dúvida de que talvez exista um “mundo invisível”, mas não. Allen pode até permitir que personagens sejam felizes, mas ele jamais deixará que isso seja conquistado às custas da consciência da crueldade do mundo. É tudo muito cruel, mas é preciso tentar ser feliz assim mesmo – esse filme, que é ao mesmo tempo o mais agradável e mais denso da atual fase do diretor, parece dizer.

É a habilidade em casar a discussão filosófica complexa com um andamento fluido e piadas divertidas que fez de Woody Allen um cineasta memorável. Magia ao Luar é, em algum sentido, filosófico, mas embalado em um ritmo ágil, atores carismáticos e o belo cenário do sul da França. A sensação ao fim da sessão é de um filme adorável e ao mesmo tempo de grande esforço mental.


Magia ao Luar, portanto, se caracteriza como a típica diversão de final de semana. Não é uma obra de arte, mas consegue divertir os espectadores, O filme é Colin Firth, Woody sabe disso, e claro, aposta no ator britânico, mas eu ainda senti que falta algo que me ligasse ao filme. Nesse sentido, eu tenho que admitir que nossa tese inicial teve êxito: depois de Blue Jasmine, algo não tem memorável assim. 


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Motivos para ver: Praia do Futuro

          
          Difícil escrever sobre este filme. Não é do tipo que tem uma história pronta e personagens de fácil compreensão. Acredito que assim como qualquer obra de arte, "Praia do Futuro" poderá significar coisas diferentes para outras pessoas, cada um verá algo, sentirá algo, não há uma única maneira de encará-lo e compreendê-lo, portanto, naturalmente, uns poderão amá-lo, outros, odiá-lo, consequência desta trama que é tão subjetiva, tão ampla, tão aberta. Escrevo aqui, o que vi, e só digo de antemão, fiquei extasiado.
E como era possível de se esperar, visto que estamos falando de um filme de Karim Ainouz, trata-se de um longa que te propõe uma trama forte, que não te poupa de nada que faça parte daquele universo, que não possui nenhum tipo de filtro, mas que também recompensa aqueles que estiverem dispostos a acompanhar a sua trajetória sem preconceitos.

          A trama é dividida em três capítulos, O Abraço do Afogado, Um Herói Partido Ao Meio e Um Fantasma Que Fala Alemão. Nome sempre citado entre os mais importantes do cinema brasileiro, Karim Ainouz está de volta com o seu filme mais sofisticado. Caracterizado por seu cinema cru, de difícil digestão, Praia do Futuro representa um amadurecimento do diretor, que permanece com a sua linha naturalista ao extremo, sem pudores, mas com uma consciência maior do que e como mostrar.

          Praia do Futuro começa com o dia em que o salva-vidas Donato (Moura) perde para o mar pela primeira vez. Na tentativa de socorrer dois turistas alemães, apenas um sobrevive e, assim, começa a ligação do protagonista com o alemão Konrad (Schick), que faz Donato trocar Fortaleza por Berlim. Donato se muda para a cidade de inverno cinza e frio, longe do mar cearense e também de Ayrton (Barbosa), seu irmão mais novo.


          Donato abandona completamente o passado para se adaptar e viver uma vida em que sua personalidade não esteja atrelada ao que os outros projetam nele. Praia do Futuro mostra de maneira sensível e contundente a liberdade  que a mudança proporciona. E a fotografia que contrasta as cores do Nordeste brasileiro com a frieza do clima alemão também dá conta dessa transformação.

            Muito do sucesso do filme se deve aos seus personagens, todos extremamente bem construídos com seus dilemas e temores. Donato que pode até vender uma imagem segura no início do filme, parece desde sempre insatisfeito, como se alguma coisa estivesse faltando na sua vida. Aliás, pertencimento é uma ótima palavra para definir o que se passa na cabeça de Donato, pois na maior parte do tempo ele não parece saber dizer a que lugar pertence. Pertence a água? Pertence a praia? Pertence a Berlim? Difícil dizer!

         
A fuga e o abandono, temas que Aïnouz aperfeiçoou na sua carreira sob uma perspectiva feminina, em O Céu de Suely e Abismo Prateado, ganham aqui contornos mais pessoais e ajudam a mostrar a vulnerabilidade dos personagens, e, de certa forma, humanizam o salva-vidas, visto pelo irmão mais novo como um super-herói.

          Uma marca do roteiro são as inúmeras elipses, algumas bem radicais, que pontuam todo o filme. Ao mesmo tempo em que elas abrem para o espectador a possibilidade dele imaginar os acontecimentos suprimidos, também provocam pequenos choques pelas quebras inusitadas das expectativas usuais .

          Lidando com o tema da homossexualidade sem sentir a necessidade de incluir passagens que discutam o preconceito, Praia do Futuro traz indivíduos bem resolvidos quanto à própria orientação sexual.  Por outro lado, aos poucos o filme leva o espectador a perceber de maneira sutil que talvez o personagem de Wagner Moura não experimentasse exatamente a paz de espírito que buscava demonstrar, o que se torna, de certa forma, motor da narrativa. Ainda que se mostre feliz por estar com Konrad, aqui e ali notamos a inquietação do protagonista.


            Retratando a humanidade e o caráter de Donato através de pequenos momentos, Wagner Moura ainda exibe uma integridade artística admirável ao não hesitar em se entregar às sequências de sexo, que são fundamentais para que percebamos a magnitude da atração entre os dois amantes. A mesma integridade, claro, vale para Clemens Schick, que ilustra bem o afeto de Konrad pelo outro e sua dor diante dos obstáculos que enfrentam. Jesuíta Barbosa é uma revelação, o filme alcança seu melhor momento quando o ator entra em cena. O encontro entre os dois irmãos é memorável, e a tensão e comoção que existe no olhar dos dois atores é a prova do quanto compreenderam seus personagens e quanto deram o melhor por eles.


           Mais do qualquer coisa é um filme de sensações, onde as imagens e os sons causam impacto, tristeza, emoção,  muito sentimento, é muito humano ao relatar as fragilidades de seus personagens, é complexo, é profundo. É também um filme introspectivo, silencioso, intimista, melancólico, é delicado ao mesmo tempo em que é puro caos, é seco ao mesmo tempo em que é poético, fala de coragem através daqueles que sentem medo, fala de amor através daqueles que são brutos, fala de ira através daqueles que esperam por um abraço. Vi uma obra como poucas, vi um cinema nacional como quase nunca tive a oportunidade de ver e sentir. Um trabalho de arte, um filme a ser lembrado.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Motivos para ver: Malévola


          Uma das grandes mudanças que o mundo cinematográfico vem vivendo, diz respeito ao cada vez mais inexistente uso daquela ideia maniqueísta de separar claramente o bem do mal. Víamos muito isso em filmes infantis, sobretudo os da Disney, onde detectávamos bem rapidamente quem seria o vilão e quem seria a mocinha da história. Algumas produções mais recentes buscaram então humanizar os vilões, ou então tornar mais reais os mocinhos, diminuindo aquele tom idealizado que eles sempre carregavam. Definitivamente, Malévola nos apresenta essa nova proposta. O que a Disney fez foi simplesmente subverter totalmente esta ideia enraizada de que a personagem principal deste filme seria uma vilã má (com seus motivos, mas ainda assim, uma vilã) e tornou a Malévola de 2014 a grande heroína da história, o grande exemplo a ser seguido.

          Malévola traz a história não contada da vilã mais icônica da Disney, do clássico de 1959, A Bela Adormecida. Uma bela e ingênua jovem com atordoantes asas negras, Malévola (Jolie) leva uma vida idílica, crescendo em um pacífico reino em uma floresta, até o dia em que um exército invasor de humanos ameaça a harmonia da região. A fada surge como a mais feroz protetora da região, mas acaba sendo vítima de uma impiedosa traição — um acontecimento que começa a transformar seu coração outrora repleto de pureza em pedra. Determinada a se vingar, ela enfrenta uma batalha épica contra o rei dos humanos e, como consequência, amaldiçoa sua filha recém-nascida, Aurora (Elle Fanning). Conforme a menina cresce, Malévola percebe que Aurora é a peça essencial para estabelecer a paz no reino — e para a sua própria felicidade.

          O sentimento de vingança que leva Malévola a colocar o feitiço em Aurora é bastante compreensível e decorrente da traição sofrida por ela pelo seu então melhor amigo, que viria a ser o Rei. Ainda assim, esse sentimento é anulado com o passar do tempo e com a convivência das duas, a ‘vilã’ e a ‘mocinha’. E ainda, em todos os momentos da história – do início até o seu final, Malévola somente reage, nunca age por livre e espontânea vontade de fazer o mal.

          Linda Woolverton (‘O Rei Leão’) teve a coragem criativa de alterar a clássica história, entregando uma personagem muito mais profunda e tridimensional que aquela que conhecíamos no conto secular. A origem de Malévola como uma personagem feminina do mal nunca foi clara no desenho original, dando liberdade para que a roteirista pudesse fundamentar seus motivos em fatos passados. Malévola não é má, e sim uma mulher com o coração ferido. Suas ações e atitudes são extremamente bem transpostas para a tela por uma sensual e segura Angelina Jolie. Envolvida com a produção desde seu início, a atriz soube construir sua Malévola de maneira esplêndida, tomando a liberdade criativa para que a personagem tivesse um embate interior entre o vilanesco e o heroísmo.

          E por fim, o amor verdadeiro que se tornou um elemento bem icônico na história da Bela Adormecida, nesta versão da história, é dado por ninguém mais, ninguém menos que… a própria Malévola. Mais heroína que isso impossível. O ponto alto do texto é subverter o significado de “Amor Verdadeiro”, demonstrando que este pode ser muito mais grandioso que um príncipe encantado apaixonado. ‘Malévola’ é um filme feminista, e este é seu grande acerto.

          Sim, Angelina Jolie reina quase que exclusivamente no filme. Nota-se que desde o início, essa era a intenção, pois a quantidade de closes em seus lindos olhos é bastante significativa. Angelina ao menos faz a ida ao cinema valer a pena. O visual, ao lado de Jolie, é o grande acerto da produção.

          O Calcanhar de Aquiles da produção é seu roteiro, que alterna entre o genial e o tedioso, e chega a dar sono em alguns momentos menos inspirados. Apesar de conseguir amarrar a maior parte das pontas soltas – menos o motivo de uma garotinha do bem chamar Malévola, percebemos que o texto tem as suas lacunas visíveis. 

          Malévola é fruto de uma nova safra da Disney que repensa seus clássicos para educação de uma nova geração, descartando arquétipos de princesas frágeis e heróis galopantes que salvam o dia com um beijo. Depois de Valente  e Frozen, foi vez da rainha das vilãs revelar ao público que existem outras formas de “amor verdadeiro” além daquelas que oferecem os príncipes encantados. Ainda que a intenção seja louvável, na pressa para criar uma nova moral, Malévola esqueceu-se de contar uma boa história.


Fontes
Omelte: http://omelete.uol.com.br/malevola/cinema/malevola-critica/#.U6GttpRdUuc
Rondonia Dinamica: http://www.rondoniadinamica.com/arquivo/critica-do-filme-malevola,70625.shtml
Cabine Cultural: http://cabinecultural.com/2014/06/05/critica-malevola-so-que-nao/

domingo, 27 de abril de 2014

Motivos para ver: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho


          Primeiramente, antes de começar a escrever sobre o filme, eu vou justificar qualquer ação que pareça um "melação", mas se você não assistiu ao filme não vai saber, e você que assistiu ao filme, com atenção, vai entender que todas as minhas palavras e elogios são completamente justificáveis, tendo em vista, que o filme, em minha opinião, é de uma delicadeza pura e simples.
          Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no último Festival de Berlim, o filme é baseado no curta de 2010 Eu Não Quero Voltar Sozinho, dirigido por Daniel Ribeiro, que ganhou prêmios em festivais e depois repercutiu no YouTube, onde tem quase 3 milhões de visualizações, que também assina a direção e roteiro do longa. Se trata de um caso raro no cinema nacional, que sem uma divulgação forte e sem o selo "Globo Filmes", acabou tendo como sua maior publicidade, seu conteúdo, e a curiosidade que foi surgindo no boca-a-boca. Com sua simplicidade e delicadeza, o filme tem tudo para ganhar mais espaço e merece, é um trabalho admirável, sensível e bastante humano.A melhor forma de descrever Hoje Eu Quero Voltar Sozinho seria dizer que trata de amor.
          Com mais tempo e mais recursos, o diretor pode explorar de forma sensível a sexualidade e as dificuldades para conquistar a independência de Leo (Ghilherme Lobo), um adolescente que nasceu cego. O filme teve sua estreia na mostra Panorama do Festival de Berlim e foi fortemente aplaudido pelo público. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho não é um filme sobre aceitação, é um filme extremamente sensível sobre o que faz do amor, amor, não importa como for.
          A ideia é exatamente a mesma do curta-metragem. A diferença agora é que os personagens são mais velhos (e os atores, obviamente, também) e assim a trama ganha outras nuances, amadurecimento e maior complexidade. Acompanhamos a vida de Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente cego que precisa lidar com a super proteção de seus pais enquanto luta por ganhar mais independência, é onde nasce o desejo de fazer intercâmbio, viajar para longe, ter outra vida. Tem o apoio constante de sua melhor amiga, Giovana (Tess Amorim), com quem sempre relata o que pensa e sente. Porém, tudo muda com a chegada de um novo aluno no colégio em que estudam, Gabriel (Fabio Audi), que acaba despertando novos sentimentos nos dois amigos, principalmente em Leonardo, que acaba conhecendo um pouco mais de si, mais sobre sua sexualidade.
          Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é aquele tipo de filme extremamente simples mas que que acaba dizendo muito, é de fato, sobre muitas coisas. Não gosto e não quero rotular a obra com apenas "filme com temática homossexual", sim, é também sobre isso, sobre a descoberta, entretanto, ele vai além. A maneira como o roteiro insere seus personagens neste contexto é de uma delicadeza admirável, nos relata este momento de encontro, de descobertas pessoais, de novos desejos, é interessante e bastante original a forma como Daniel Ribeiro expõe a sexualidade dos protagonistas, ele aposta numa abordagem mais intimista, ignora os estereótipos, a descoberta não é exatamente sexual, é uma questão de afeto, de sentimentos, e esta é a beleza da obra. Não deixa de ser, também, sobre a adolescência, sobre os dilemas, as dúvidas, os questionamentos, a busca constante de ser encontrado e de ser compreendido.

          Segundo meu amigo Leandro, que deu sua opinião ao ler esse texto: "um filme que não tem nada de sexual, um filme sem rótulos, sem temática. A vida simples de um menino cego que aceita sua condição e que descobre sua paixão de adolescente, sem conflitos existências e sem dramatização. Porque um dia, todos vão entender que amar alguém é um sentimento que não precisa ser diabolicamente conflituoso. Um filme lindo, simples e soa quase como um poema."

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Motivos para ver: Divergente


No mundo das séries temos uma palavra para denominar os fãs, “fandom”. Esse termo também é usado no mundo dos livros e, às vezes também com filmes, que geralmente foram originados de livros. Quando li “Divergente” pela primeira vez, logo abracei a causa do fandom da saga: Em quatro dias já tinha lido os dois primeiros livros e esperei ansiosamente o lançamento do último. Além disso, esperei por longos cinco meses pelo lançamento do filme (especialmente o último torturante mês no qual o filme já tinha estreado nos EUA e em outros lugares do mundo e demorou esse tempo todo para chegar aqui, mas ok). Enfim, todo esse testemunho que estou dando é para poder convencer a cada um de vocês a assistir Divergente (e nos cinemas, de preferência, rs).

Acompanhamos a história de Beatrice Prior que vive numa Chicago futurista que, após uma guerra dividiu a sociedade em cinco facções: Abnegação, Amizade, Audácia, Erudição e Franqueza. Cada uma destas facções aceita como lema um modo de vida baseado na altruísmo, paz, coragem, inteligência e verdade, consecutivamente. E aos 16 anos os jovens devem passar por uma cerimônia na qual escolherão qual facção será a sua para o resto da vida. Beatrice faz seu teste de aptidão e seu resultado é inconclusivo, o que na história narrada é chamado de Divergência. Alertada a não contar nada para ninguém, Beatrice se vê perdida e não sabe como será seu futuro, porque ser divergente é algo perigoso, mesmo que ela não entenda o porquê.

É nesse momento em que Tris não se vê altruísta o suficiente para permanecer em sua facção de origem e migra para a Audácia. Lá, somos apresentados aos ritos de iniciação da facção e também a seu instrutor Four, com quem Tris acaba se envolvendo; seus novos amigos Christina, Will e Al; outros iniciandos que se tornam seus inimigos, Molly e Peter, e os líderes da facção, Eric e Max.

O papel da consagrada Kate Winslet é de Jeannie Matthews, líder da Erudição e caça-divergente nas horas vagas. Jeanine é uma mulher poderosa e ambiciosa, que acredita que os divergentes são uma ameaça ao sistema de facções pelo simples fato de não se encaixarem na sociedade, sendo, portanto, incontroláveis. E é a partir dela que a ação cria vida fora do complexo da Audácia e se espalha por toda a Chicago. Não vou explorar tanto esse quesito, pelo simples fato de estar spoileando e contando tudo o que o filme traz pra nós.

Para fãs do livro, o filme pode ser um pouco decepcionante pelas escolhas das cenas que apareceram na adaptação. Ok, todos nós sabemos como funciona a questão da adaptação e que recortes devem ser feitos para que a dinâmica funcione melhor nas telas, mas algumas coisas realmente me deixaram encucada porque, já que a saga terá continuação já confirmada pela produtora com mais três filmes (sendo o último livro dividido em duas partes), vai ficar um pouco corrido para explicar muita coisa. Um exemplo ótimo disso é o personagem Uriah, um iniciando da Audácia, que se desenvolve na história e não teve foco nenhum nesse primeiro filme. Outro ainda é sobre Peter, personagem de Miles Teller, que é de grande importância mostrar sua falta de caráter, coisa que não aconteceu veementemente nesse primeiro filme, inclusive com uma cena bastante chocante dele com o personagem de Ben Lamb, Edward, que também não teve destaque nenhum aqui. Ficaria aqui a dica para os próximos filmes para tentarem não eliminar tantos elementos vitais para a história assim.


Mas ainda assim, eu estou apaixonada pelo filme. A química de Shailene Woodley e Theo James, dois dos meus atores mais queridos nesses últimos tempos e já conhecidos no meio seriador, ficou incrível! Não somente no romance - que aqui destaco, teve tanta importância quanto no livro, o que eu achei ótimo, pois o foco da história não é isso, e sim o funcionamento da cidade em facções -, mas também nas cenas de ação e drama que o casal FourTris demanda.

Além disso tudo, Shailene e Theo são ótimos atores. Ele já tem fama lá nas terras da rainha, tanto que estrelou uma série chamada “Bedlam” por lá e nos EUA, “Golden Boy” contava com ele como protagonista e ela já foi até indicada por “Os Descendentes”. Fora todos os meus elogios aos dois como atores, elogio também a simplicidade e humildade com o qual estão lidando com a explosão em suas carreiras graças ao filme. É bem difícil de ver isso acontecer.


É difícil não me empolgar ao falar de uma das minhas histórias preferidas, mas espero ter conseguido passar um pouquinho da emoção que é a história de “Divergente”. E não percam o filme nos cinemas!

terça-feira, 25 de março de 2014

Os negros e suas premiações no Oscar


O Oscar de 2014, com certeza, ficará na memória de todas as pessoas, que se interessam e tem admiração pela sétima arte, pois foi o primeiro da História que premiou um diretor negro. Steve McQueen é um cineasta, produtor, fotógrafo e escultor britânico. Vencedor de prêmios como o Oscar, o BAFTA e Festival de Veneza.

McQueen Ganhou notoriedade por seus trabalhos em Hunger e Shame, ambos com o ator Michael Fassbender (indicado ao Globo de Ouro por Shame). Seu terceiro longa-metragem, 12 Anos de Escravidão ganhou em 2014 o Oscar de Melhor Filme, sendo a primeira vez na história da Academia, que um filme de um diretor negro conquista essa láurea.  

Em 1987, ao subir ao palco, Eddie Murphy reclamou e disse que a premiação do Oscar não era dada a atores negros. Segundo ele, "os negros e ele mesmo não seriam capazes de levar uma estatueta". Eddie Murphy foi indicado ao Oscar em 2007 por 'Dreamgirls', mas quem venceu foi Alan Arkin, por "Pequena Miss Sunshine".

Nesse sentido, depois de pensar um pouco, resolvi escrever, em forma de lista, o que não é muito fácil, sobre os atores e atrizes negros que ganharam um prêmio Oscar, ao longo dos anos. Fazer a lista foi um bom exercício porque pude relembrar maravilhosas atuações e filmes. Espero que vocês gostem.

1 - Hattie McDaniel - Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante
Hattie McDaniel ficou famosa após vencer o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em ...E o Vento Levou (1939). Com o prêmio, ela se tornou a primeira pessoa negra a ganhar um troféu da principal premiação da indústria cinematográfica.



2 -  Sidney Poitier – Oscar de Melhor Ator
Em 1964, o norte-americano Sidney Poitier entrou para a história ao se tornar o primeiro  negro a receber o troféu de Melhor Ator em um Oscar. Ele foi contemplado por seu papel na comédia dramática Uma Voz nas Sombras (1963), de Ralph Nelson. Em 2002 ganhou o Oscar Honorário, "por suas performances extraordinárias e presença única na tela e por representar a indústria com estilo, dignidade e inteligência".




3- Louis Gossett Jr. -  Melhor Ator Coadjuvante
Louis Gossett Jr. foi o primeiro negro a vencer o Oscar na categoria Melhor Ator Coadjuvante. Ele recebeu o prêmio por sua performance em A Força do Destino, de 1982.



4 -  Whoopi Goldberg - Melhor Atriz Coadjuvante
O sucesso da falsa - e cômica - médium Oda Mae Brown, de Ghost - Do Outro Lado da Vida (1990), foi tanto que Whoopi Goldberg recebeu uma das cobiçadas estatuetas do Oscar. A estrela se consagrou vencedora na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.



5 -  Denzel Washington - Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Ator
O astro Denzel Washington já foi duplamente “oscarizado”. Sua primeira estatueta veio em 1990 com o filme Tempo de Glória, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. No ano de 2002, na mesma cerimônia em que Halle Berry venceu, Washington levou para casa o Oscar de Melhor Ator por seu trabalho em Dia de Treinamento.



6 -  Cuba Gooding Jr. - Melhor Ator Coadjuvante
Foi por sua atuação no sucesso Jerry Maguire - A Grande Virada, do diretor Cameron Crowe (Quase Famosos), que Cuba Gooding Jr. recebeu em 1997 o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.



7 -  Halle Berry - Melhor Atriz
Halle Berry também fez história no Oscar. Por viver a personagem Leticia Musgrove em A Última Ceia, ela se tornou, em 2002, a primeira mulher negra a receber da Academia o prêmio de Melhor Atriz.



8 -  Jamie Foxx - Melhor Ator
Por sua interpretação visceral na cinebiografia Ray, Jamie Foxx foi consagrado o melhor ator do Oscar de 2005. No mesmo ano, em outra categoria, o famoso astro negro Morgan Freeman também recebeu um troféu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.



9 - Morgan Freeman - Melhor Ator Coadjuvante
Após ser indicado três vezes ao Oscar, finalmente em sua quarta disputa pelo troféu, Morgan Freeman foi contemplado por uma estatueta. Em 2005, ele foi o campeão da categoria Melhor Ator Coadjuvante por Menina de Ouro, de Clint Eastwood. Anteriormente, o astro competiu pelas obras Armação Perigosa (1967), Conduzindo Miss Daisy (1989) e Um Sonho de Liberdade (1994). Em 2010, Freeman foi indicado pelo longa-metragem Invictus.



10 -  Jennifer Hudson - Melhor Atriz Coadjuvante
Em 2007, Jennifer Hudson representou os negros no Oscar com o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Ela recebeu o troféu por seu trabalho em Dreamgirls - Em Busca de um Sonho.



11 - Forest Whitaker - Melhor Ator
No Oscar de 2007, Forest Whitaker recebeu o prêmio principal na categoria Melhor Ator por dar vida ao ditador africano Idi Amin em O Último Rei da Escócia (2006). Whitaker nos premiou com uma atuação de tirar o fôlego de qualquer espectador.



12 -  Mo'Nique - Melhor Atriz Coadjuvante
No Oscar de 2010, Mo'Nique venceu na categoria Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel no drama de Lee Daniels, Preciosa - Uma História de Esperança.



13 - Octavia Spencer - Melhor Atriz Coadjuvante
Octavia Spencer levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel da empregada doméstica Minny no filme Histórias Cruzadas. A atriz era considerada a favorita, após ter levado o Globo de Ouro e o prêmio do Sindicato de Atores dos Estados Unidos. Aplaudida de pé, Octavia agradeceu à sua família e ao elenco do filme Histórias Cruzadas.



14 - Lupita Nyong'o - Melhor Atriz Coadjuvante
A atriz foi completamente ovacionada pela sua atuação. É a primeira de seu país a ser indicada e a vencer um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, no filme 12 Anos de Escravidão. Sua atuação lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro, SAG Awards e BAFTA de melhor atriz coadjuvante em cinema. O filme rendeu a Lupita 26 prêmios nacionais e internacionais.




Referências: 

*List of black Academy Award winners and nominees - Wikipedia, the free encyclopedia en.wikipedia.org
*Conheça os atores negros vencedores do Oscar - Cinema - R7 entretenimento
*13 negros vencedores do Oscar – Geledés Instituto da Mulher Negra

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Motivos para ver: Philomena


Sabe quando a novela tenta tratar de alguma questão de cunho social, esbarra numa pancada de tabus e acaba se tornando apelativa e piegas? Não é o caso de Philomena, dirigido por Stephen Frears com roteiros e produção de Steve Coogan, que também atua como o jornalista Martin Sixtmith.

Frears deixa bem explícita a sua direção voltada ao trabalho dos atores, que estão excelentes em seus papéis, com destaque para os protagonistas, naturalmente. Judi Dench consegue transmitir a ternura de uma mãe com saudades, e também a insanidade daquela vovó quase caduca, que de tão simpática se torna imune ao mau-humor alheio. Ou quase. Como em um antagonista, encontra seu oposto em um frustrado Martin Sixmith, grosso e mau humorado, apesar do seu vocabulário “Oxbridge”.

Aos 18 anos, Philomena Lee pecou. Em uma noite de liberdade, na feira de uma pequena cidade na Irlanda, conheceu um belo rapaz que trabalhava nos correios. Ele elogiou sua beleza e ofereceu cerveja. Ela aceitou e se deixou levar pelo toque que despertava coisas que nunca sentira antes. Meses depois, as consequências do “crime” começaram a aparecer. Sua penitência duraria mais de 50 anos.

50 anos depois, Philomena, já uma senhora idosa (interpretada com impecabilidade e muita simpatia por Dench), decide revelar o segredo que guardou por todos esses anos e sair à procura de seu filho. Para isso, ela conta com a ajuda de Martin Sixmith (Coogan, ótimo), um ex-repórter da BBC que após perder seu emprego, entra meio que a contra-gosto na história de Philomena. Mas a medida que os inacreditáveis fatos que permeiam a história de Philomena começam a ser revelados, Martin acaba se envolvendo emocionalmente na história e na jornada dela.

Com esta premissa, PHILOMENA tinha tudo para cair no dramalhão Hollywoodiano. Mas nas mãos deste sensacional trio inglês, o filme se transforma em uma história surpreendente e até com algumas reviravoltas, pontuadas pelo melhor do ácido humor britânico.

No dia em que o filho completaria 50 anos, Philomena tem em mãos a foto do menino que uma jovem freira lhe entregou em sigilo. É a única prova da existência do menino. Sua angústia se manifesta com força nesse dia: quem seria o menino, onde estaria, como se saiu na vida, será que algum dia ele pensou na mãe, ou chegou a lembrar-se dela?

Além de profissional, Martin não é nada fã do catolicismo: é ateu declarado e não compreende como Philomena pode ser tão fiel à sua fé, depois da atrocidade que lhe fizeram as freias. 

Temas como adoção, homossexualidade, desmandos da igreja, sexo e ganância são tratados sem a menor cerimônia em Philomena, de forma honesta e aberta, mais um mérito do longa. O que me faz pensar, mais uma vez, que mesmo se apoiando em temas “polêmicos”, é possível contar boas histórias sem cair no sentimentalismo barato ou em discursos populistas. Philomena é um excelente drama, nada cansativo e com ótimos momentos de descontração. Bom para ilustrar que, mesmo em momentos de angústia e desespero, é possível sorrir um pouco, sem precisar ser idiota ou boboca para isso.



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Diana e seu esquecimento na premiação do Oscar


A Academia adora alguma história da realeza britânica, temos o exemplo clássico de O Discurso do Rei e A rainha. Contudo o ícone dos anos 80, a inspiração de muitas meninas que viam a história da plebeia e o príncipe acontecendo na vida real, foi esquecida pelas premiações na adaptação cinematográfica em 2013. Esperava no mínimo mais marketing e uma nominação de Naomi Watts, que foi lembrada pela atuação em O Impossível  no Oscar do ano passado.

Apesar da vida de Diana ter sido luxuosa e invejada, a princesa era traída por seu marido e rejeitada pela Coroa Real (a princesa via seus filmes em 5 e 5 semanas). O filme se passa dois anos antes de sua morte e mostra o envolvimento humanitário de Lady Di e a polêmica de seu divórcio com príncipe Charles. Em um primeiro momento do filme, a história orbita entre o início do relacionamento com o médico paquistanês Hasnat Khan. Apesar de, na vida real, nunca ter confirmado o envolvimento com Diana. 

Um ano depois, vemos a Lady Di em sua missão humanitária (seguindo a comissão internacional de genebra) na África, visitando crianças e adultos que tiveram seus membros mutilados por minas terrestres. Indiretamente ou não, essa parte se une aos quarenta minutos iniciais do filme, onde a princesa diz que se mutilava (incluindo braços e pernas) devido a pressão que sentia no casamento. 

A atriz Naomi Watts estudou o linguajar e o olhar da princesa - tão característico de Lady Di. Porém, lendo as críticas internacionais (e nacionais) juntamente com o desempenho do filme, encontro uma explicação para seu esquecimento nas principais premiações desse ano: a história da princesa não foi cem por cento biográfica, contando com alguns boatos e fofocas da época. Um jornal britânico chamou o filme de um "esforço barato", enquanto um jornal americano declarou que a produção "manchava o nome da princesa". 

Por fim, vinte minutos antes do fim, chegamos ao envolvimento de Diana Spencer com Dodi Al Fayed e o falecimento dos dois. Nessa parte, deu a entender que Diana não gostava de Dodi de verdade, deixando uma incógnita. A produção francesa merece ser vista para cada um fazer seu próprio julgamento sobre o filme. Mas na minha opinião, ela não impressionou nem um pouco...

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Motivos para ver: Her

Spike Jonze é um homem com uma boa cabeça. Frequentemente no mundo dos curtas-metragens, tinha realizado até hoje 'Being John Malkovich', 'Adaptation' e 'Where the Wild Things Are' e ao 4.º filme conseguiu a sua obra-prima, num argumento maravilhoso totalmente escrito por si. 'Her' é muito provavelmente o Melhor Argumento Original do ano. Ganhou o Globo de Ouro nessa categoria e é pertinente, sensível e inteligente.

Num futuro não muito distante do mundo atual, Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) acabou uma relação recentemente com Catherine (Rooney Mara) e é responsável, numa empresa, por escrever cartas de amor pessoais para pessoas com dificuldades em expressar os seus sentimentos. Theodore é um homem solitário, fechado no seu mundo até ao dia em que compra um sistema operativo com inteligência artificial, projetado com base nas sua personalidade e com a capacidade de evoluir como um ser humano. "Samantha" (voz de Scarlett Johansson) e Theodore desenvolvem uma relação, acabando o OS por aprender progressivamente como são as relações humanas, embora sem nunca ter um corpo que permita que a relação dê um passo determinante. Tudo o resto é cinema, bom cinema, é uma evolução bem pensada, futurista, mas tangível. São sentimentos sem toque e ensinamentos metaforizados.


O intelecto de Spike Jonze permitiu que 'Her' seja tudo: drama, ficção científica, romance e até comédia. É um filme sobre relações humanas e sobre o amor, com Samantha a funcionar na perfeição como a redoma individualizada que a tecnologia nos permite hoje em dia. Pode um homem apaixonar-se por uma máquina? Claro que a esta pergunta de normalmente fácil resposta, importa acrescentar que a máquina tem a voz da Scarlett Johansson.

Apesar de ainda manter um pé no inusitado, o novo filme de Jonze, “Her”, é sem dúvida o filme mais bonito e sensível do diretor. Um belo retrato do difícil ato de se envolver em uma relação e se apaixonar, seja pelo que for, até por um sistema operacional (!)

No elenco, Joaquin Phoenix carrega o filme nas costas, em mais ótimo desempenho e repleto de nuances. Phoenix é sem dúvida o ator que, por merecimento, seria o próximo a ganhar um Oscar de Melhor Ator. Mas não necessariamente por este filme, apesar da fantástica interpretação. Quem também está muito bem, e sem sequer mostrar a cara (ou o corpo) é Scarlett Johansson, no papel de Samantha, o tal sistema operacional da história. Sem seu maravilhoso trabalho de voz, “Her” não funcionaria de jeito nenhum.


“Her”  foi indicado a 5 Oscars, incluindo Melhor Filme e Roteiro Original (escrito pelo próprio Jonze), mas dificilmente levará alguma estatueta para casa. O que não diminui em nada o brilho deste filme belo e poético, que fala de maneira tão bonita sobre a difícil mecânica das relações, sejam elas entre marido e mulher (ou ex-mulher), ou mesmo entre homem e máquina. E principalmente, que mostra que a realização de qualquer indivíduo, independe da natureza de suas relações. Ainda sem conhecer uma única avaliação negativa, "Her" mostra-se já como um dos filmes mais conceituados de 2013. 


sábado, 25 de janeiro de 2014

Motivos para ver: Trapaça


Nunca um título nacional, retratou tão bem um filme como Trapaça, afinal, o longa é realmente uma trapaça com o espectador. Vou explicar por que. Eu sempre pretendo ser muito sincero,  nas minhas críticas, pois pretendo passar minha impressão sobre os filmes e não a da crítica e muito menos a das pessoas. Digo isso principalmente, porque os inúmeros prêmios que o filme vem ganhando, e ainda os elogios por parte da imprensa, dão para o longa um ar de expectativa enorme, que possivelmente, se tornará frustrante para alguns ao assisti-lo. Afinal o filme não passa de uma manjada trama policial com reviravoltas no roteiro, extremamente previsível, igual a alguns que já cansamos de assistir no cinema. Não há nada de novo nem na forma de narrar, muito menos na história em si. Contudo, é um filme normal com boas atuações. 

O que está seduzindo os críticos e nisso com toda a razão, é o elenco, principalmente a ala feminina em performances poderosas. David O. Russell teve um leque de bons artistas para comandar seu show. Ousando com todo seu charme à flor da pele e vestindo roupas milimetricamente decotadas, Amy Adams cumpre muito bem sua missão no filme. Jennifer Lawrence, a atual queridinha de Hollywood, aparece na segunda metade da história e se destaca em um papel diferente de tudo que já fez na carreira. Eu, particularmente, não sou fã da atriz, entretanto, tenho que admitir que ela é a grande estrela do filme, que me permito dizer, está muito melhor do que Amy Adams. Christian Bale, que interpreta o protagonista, é o responsável pelas cenas mais cômicas ao longo da fita, méritos desse excelente ator. Jeremy Renner, faz uma breve ponta, mas também se destaca. O ponto negativo em torno das atuações gira em torno de Bradley Cooper e seu Richie DiMaso. Exagerado, quase descontrolado, possui sequências de loucura extrema que não passa um pingo de verdade.


No caso de Trapaça, o diretor além de usar um formato manjado, ainda carrega nos diálogos extensos e cansativos, principalmente por que eles não são tão inteligentes e divertidos como se pretendia. Aqui vai meu questionamento, para quem assistiu o filme: por que ele está sendo rotulado como comédia? 

A trama do filme é sobre uma dupla de trapaceiros, Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams) que são forçados a cooperar com o FBI num caso de corrupção, que inclui até membros do governo. Tudo parecia ir bem até que a mulher de Irving, Rosalyn (Jennifer Lawrence) se envolve na armação e acaba mudando as regras do jogo. A história roteirizada por O. Russell foi inspirada em Mel Weinberg, um trapaceiro real, que foi contratado pelo FBI no final dos anos 70 para auxiliar numa operação sigilosa da instituição.


Apesar do filme não ser tudo que se “pinta”, tecnicamente ele acaba equilibrando suas escolhas equivocadas, a começar pela direção de arte deslumbrante que recria o ambiente dos anos 70/80 com detalhes minuciosos perfeitamente. A edição, atualmente chamada de montagem é o grande trunfo que consegue dar agilidade para a arrastada narrativa de O Russell. Somado a isso ainda tem a bela fotografia em tons pastel que dão ao filme o ar retrô maravilhoso.