domingo, 15 de dezembro de 2013

Motivos para ver: Capitão Phillips


“Argo” conseguiu ser um filme bem-sucedido pela capacidade de Ben Affleck criar um thriller político e divertido sobre um assunto complicado como a invasão da embaixada dos EUA no Irã. Porém, o vencedor do Oscar 2013 falhava ao colocar o povo iraniano como vilão da obra, dignos de poucas falas e atitudes radicais. “Capitão Phillips” poderia ter caído no mesmo erro e tratado os piratas somalis como monstros da humanidade. Porém, o longa estrelado por Tom Hanks utiliza o cenário do sequestro de um navio para explorar o abandono da África com a imposição americana e a diferença entre dois homens que parecem viver em planetas diferentes.

O diretor Paul Greengrass comanda a história do capitão de um navio cargueiro, Richard Phillips (Tom Hanks), sequestrado por piratas da Somália após a invasão da embarcação. No decorrer da trama, acompanhamos a negociação entre a Marinha dos EUA e os criminosos na tentativa de liberar o refém, apostando as fichas no tenso duelo entre ambos.

O que impede Capitão Philllips de se tornar um filme panfletário contra o descaso com que o mundo trata a África, em boa medida, é que não há muito espaço para discursos - depois que a premissa se estabelece, o resto é ação. E então as oposições desproporcionais se tornam físicas mesmo: o cargueiro contra o bote dos somalis, o corpo subnutrido dos africanos contra a muralha de músculos que são os fuzileiros navais (Greengrass filma os militares nus, antes de vesti-los, para deixar essa oposição bem clara).


Toda essa diferença acaba sendo refletida durante as negociações do sequestro, já que o americano parece sempre capaz de antever cenários não imaginados pelo pirata. Esse antagonismo gera sentimentos dúbios entre os próprios protagonistas: Phillips percebe a ingenuidade e a encruzilhada em que os africanos se meterem ao mesmo tempo em que teme pela vida, enquanto Muse (Barkhad Abdi) admira o refém pela inteligência, sabendo da necessidade de matá-lo, caso seja preciso. Nada disso seria visível se não fosse o trabalho da dupla de atores excelentes da produção: Abdi se mostra uma grata revelação, enquanto Hanks consegue se livrar de uma fase ruim e caminha para o terceiro Oscar da carreira.

Em diversas tomadas, o diretor faz questão de mostrar o contraste entre o grande e milionário navio cargueiro sequestrado e a pequena lancha que transporta os piratas e, logo em seguida, o minúsculo barco contra as enormes embarcações da frota da Marinha dos EUA. Nestes trechos, fica clara a intenção de mostrar o poder americano perante os insignificantes africanos, sendo a violência a única forma de chamar a atenção para a tragédia humanitária ocorrida naquela parte do planeta.


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