quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os injustiçados do “The Oscar goes to...”


Todos os anos, um dos eventos mais aguardados pelas pessoas que adoram cinema é o Oscar. A premiação ocorre anualmente desde 1929 e premia os melhores profissionais da indústria cinematográfica, entre atores, diretores e roteiristas.

Os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas se reúnem e votam para eleger quem se destacou no cinema, no ano que passou. Muitas vezes as escolhas são consideradas infelizes, visto que um ator, atriz ou diretor se destacou muito mais no papel que representou ou em seu trabalho do que os ganhadores da estatueta.

Apesar de existirem cerca de trinta categorias de premiação atualmente, a que mais gera polêmica e também a mais aguardada todos os anos é a de melhor filme. Normalmente, em função do burburinho, já se imagina qual será o grande vencedor antes mesmo do esperado “The Oscar goes to...”. Porém, algumas vezes um filme que tinha tudo para ganhar acaba sendo deixado de lado e a estatueta vai para uma produção considerada inferior.

É até estranho pensar que algumas produções consideradas verdadeiras obras primas do cinema, não foram agraciadas com o prêmio mais importante da cerimônia. Mas sim, isso já aconteceu repetidas vezes e muitos profissionais da indústria cinematográfica, além dos críticos especializados, não conseguem conceber que alguns filmes não tenham garantido o prêmio mais cobiçado da noite. Particularmente, o Oscar, não é um Berlinale ou um Festival de Cannes, que na minha opnião, são festivais sérios e que premiam, de fato, bons filmes, atores e diretores. Mas tem sua relevância e por isso o espanto de alguns críticos, cinéfilos e até mesmo leigos que gostam de cinema.


Tempos Modernos – Charles Chaplin – 1936

Este foi o último filme mudo lançado por Charles Chaplin e é considerado por muitos um marco na história do cinema. Apesar de sua grande importância, o filme não conquistou o prêmio máximo do Oscar e chegou inclusive a ser proibido na Itália e na Alemanha, quando os ditadores estavam no poder, por considerarem que o filme era socialista.

Charles Chaplin realizou diversos filmes excelentes, aclamados por espectadores e pela crítica especializada. Infelizmente, nunca subiu ao palco do Kodak Theater para receber uma estatueta pelo melhor filme.
Nem mesmo as obras-primas do cinema mudo Luzes da Cidade, Tempos Modernos e Em Busca do Ouro fizeram com que a Academia enxergasse Chaplin. Ele permaneceu ignorado até 1972, quando recebeu uma estatueta pelo conjunto de sua obra. Antes disso, só recebeu prêmios menos importantes, como o Oscar de Melhor Trilha Sonora por Luzes da Ribalta. 

Cidadão Kane – Orson Welles – 1941


Chega até ser engraçado e inacreditável afirmar que Cidadão Kane não conquistou o Oscar de melhor filme quando foi lançado. E isto se deve ao fato de esta produção dirigida por Orson Welles ter sido um verdadeiro marco na história do cinema. Quando são feitas listas com os nomes dos melhores filmes de todos os tempos, além daqueles que são obrigatórios para quem gosta de cinema, Cidadão Kane sempre figura entre as primeiras posições. Infelizmente, os membros da Academia não enxergaram toda a maestria desta produção cinematográfica. A obra-prima de Orson Welles estava, realmente, muito à frente de seu tempo, com um enredo diferenciado e enquadramentos jamais experimentados em outros filmes. O diretor teve que se contentar com o prêmio de melhor roteiro original na cerimônia. 

Cantando na Chuva – Gene Kelly – 1952

O musical estrelado por Gene Kelly e Donald O’ Connor conta com sequências de música e dança inesquecíveis até os dias de hoje. Até os mais jovens já devem ter ouvido falar, ou assistido, a famosa cena protagonizada por Kelly que dá nome ao filme, na qual ele dança e canta alegremente sob a água que cai dos céus. Infelizmente a Academia, e nem mesmo seus produtores, previram que o filme se tornaria o clássico que é hoje. A produção cinematográfica só contou com indicações para trilha sonora e melhor atriz coadjuvante. O American Film Institute, por outro lado, incluiu a película na lista dos 25 maiores musicais de todos os tempos. 

Janela Indiscreta – Alfred Hitchcock – 1954 


O diretor Alfred Hitchcock, ao longo de sua carreira, recebeu o apelido de mestre do suspense, tamanhas as emoções à flor da pele que seus filmes proporcionavam aos espectadores. A publicação The Screen Directory, bastante conceituada no mundo do cinema, classificou o cineasta como o maior diretor de todos os tempos. Apesar de ter recebido diversas indicações ao Oscar de melhor diretor e de melhor filme, Hitchcock nunca teve o prazer de segurar a tão cobiçada estatueta. Janela Indiscreta é considerado por muitos especialistas o melhor filme de Hitchcock e a produção sempre figura entre as primeiras posições nas listas de filmes que devem obrigatoriamente ser assistidos. 

Um Corpo que Cai – Alfred Hitchcock – 1956

A discussão costuma levantar polêmica. Enquanto alguns cineastas e críticos especializados acreditam que Janela Indiscreta é o melhor filme dirigido por Alfred Hitchcock, outros afirmam com veemência que Um Corpo Que Cai é a obra prima máxima do mestre do suspense. Seja como for, os dois filmes devem obrigatoriamente ser vistos por quem gosta de cinema e, infelizmente, nenhuma das produções foi agraciada com o prêmio máximo da Academia.

Na película, James Stewart dá vida ao personagem Scottie, um detetive com medo de altura que é contratado por um amigo da faculdade para investigar a esposa dele que tem tendências suicidas. Depois de salvá-la de uma situação perigosa, o detetive começa a ficar obcecado pela misteriosa mulher.
Ignorado pela Academia durante vários anos, a única estatueta que o diretor conseguiu foi o prêmio Irving Thalberg, pelo conjunto da obra, em 1967. Para se ter uma ideia, o revolucionário Os Pássaros, de 1963, foi derrotado na categoria de efeitos especiais por Cleópatra. Já o clássico Psicose perdeu para Se meu Apartamento Falasse o prêmio de Melhor Filme, em 1960. 

Laranja Mecânica – Stanley Kubrick – 1971 

Stanley Kubrick dirigiu diversos filmes que hoje são considerados clássicos e verdadeiras obras-primas do cinema. No entanto, o célebre diretor nunca recebeu um Oscar sequer de melhor filme.

Depois do igualmente clássico 2001, Uma odisséia no espaço, Kubrick decide cutucar a onça com vara curta, no caso a sociedade, com críticas severas a respeito da violência e brutalidade. No filme, Malcom McDowell interpreta o protagonista Alex de Large, líder de uma gangue que sente prazer ao espancar, estuprar e matar. Nada é suficiente para os jovens viciados em leite drogado, que estão sempre maltratando alguma pessoa indefesa. Em determinado momento Alex é finalmente capturado pela polícia e vai participar de um programa de reabilitação, criado para que ele não tenha mais impulsos destrutivos em seu corpo e mente. Quando o jovem se vê livre do tratamento de choque e volta à realidade, precisa lidar com os indivíduos que maltratou no passado. 

Taxi Driver – Martin Scorsese – 1976


Até os dias de hoje há muita polêmica em torno desta produção cinematográfica, que perdeu a estatueta de melhor filme para Rocky, escrito e estrelado por Sylvester Stalone. Críticos especializados e cineastas acreditam firmemente que Taxi Driver, de longe um dos melhores filmes de Scorsese, é infinitamente superior ao filme que conta a história de um lutador de boxe. E se a cerimônia do Oscar daquele ano levanta polêmicas, a película mais ainda, visto que as cenas de violência são bastante realistas.

O tal motorista de taxi que dá nome ao filme é Travis (interpretado por Robert De Niro). O protagonista trabalha durante a noite, pois sofre de insônia, e durante as horas que passa dentro do taxi ele precisa lidar com prostituição e violência, sempre presentes quando as luzes se apagam. Como a revolta toma conta de si, Travis acaba por matar violentamente um homem e fica obcecado em salvar uma jovem prostituta menor de idade (interpretada por Jodie Foster), que entra no taxi para fugir de seu cafetão.

Além de ver o filme de Stallone derrotar Taxi Driver em 1976, Martin Scorsese sequer foi indicado ao prêmio de Melhor Diretor por um de seus mais brilhantes trabalhos. Essa, porém, não foi a única injustiça sofrida pelo diretor. A Academia também o ignorou em Touro Indomável, Os Bons Companheiros e em outras três oportunidades. Scorsese só foi premiado na categoria de direção em 2007, por Os Infiltrados. 

Apocalypse Now – Francis Ford Coppola – 1979

O filme dirigido com maestria por Francis Ford Coppola quase não chegou às telas de cinema. Isto porque a produção cinematográfica era tida como loucura por parte dos funcionários que trabalhavam com o diretor.

De qualquer forma, os apaixonados por cinema e os críticos cinematográficos acreditam que o filme é uma obra-prima e um dos melhores filmes que contam com a direção de Coppola. Para variar, os membros da Academia não consideraram que a produção merecia um Oscar de melhor filme. Por outro lado, publicações consagradas, além da crítica especializada, avaliaram por diversas vezes o filme como uma das melhores produções de guerra de todos os tempos. 

Gwyneth Paltrow x Fernanda Montenegro - Melhor Atriz

O Oscar de 1999, para mim foi o que mais houve injustiças. Shakespeare Apaixonado ganhando Melhor Filme no lugar de Resgate do Soldado Ryan, Judi Dench ganhando um Oscar por seus 10 minutos de aparição e outros. Mas a maior injustiça do ano, foi Gwyneth Paltrow ganhando o Oscar de Melhor Atriz no lugar de Fernanda Montenegro, que tinha a melhor atuação dentre as indicadas. As duas disputaram também o Oscar com Emily Watson, Meryl Streep e Cate Blanchett, então, se fosse para roubar um Oscar mesmo, que roubasse de uma melhor forma.

O prêmio foi injusto não só porque naquele ano Fernanda Montenegro concorria à estatueta por sua belíssima atuação em Central do Brasil. É que Cate Blanchett e Meryl Streep também haviam sido indicadas por Elizabeth e Um Amor Verdadeiro, respectivamente. Com três nomes de tanta qualidade na disputa é no mínimo de se estranhar que a Academia tenha optado por Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado

2 comentários:

  1. Laranja Mecânica pra mim é a injustiça top! Kubrick se mostra dono de um talento inenarrável através de uma de suas obras-prima.

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  2. Todos eles me comovem, mas Sir Alfred Hitchcock não ter ganho nada? Injustiça das piores, juntamente com o Chaplin. E Fernanda Montenegro? Nem o pior filme dela, será o melhor da Gwyneth Paltrow. Teria sim, sido justo perder para Meryl então.

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