sábado, 12 de outubro de 2013

Elysium: entre a ficção e a crítica social

Mesmo tendo uma fórmula previsível de futuro pós-apocalíptico, Elysium consegue se destacar pelo bem elaborado contexto político e social, sem perder as raízes de superprodução.O comentário social pertinente e os efeitos especiais tornam Elysium, no mínimo, uma experiência válida no cinema para quem curte o estilo. Porém, o desenvolvimento pouco consistente da trama e os personagens pouco cativantes representam alguns problemas para que o filme possa ser considerado realmente memorável.

Estamos no meio do século 22 e o cenário é muito parecido com o que foi mostrado recentemente em Wall-E. Vendo o lixão que a Terra estava virando, os humanos criaram um satélite artificial onde poderiam viver em paz com seus gramados perfeitos, rodeados de pessoas lindas e, principalmente, saudáveis. Porém, este paraíso que dá nome ao filme tem seu preço e nem todos podem pagá-lo. Ao contrário da animação da Pixar, não é apenas um robozinho fofo que é deixado para trás. Toda uma população fica na Terra, sofrendo dia após dia nas mãos dos endinheirados que controlam as fábricas e seus robôs de diretrizes quase nazistas. Nesse contexto, a secretária do governo Rhodes (Jodie Foster) faz de tudo para preservar o estilo de vida luxuoso de uma minoria favorecida. Enquanto isso, na terra, o ex-presidiário Max Da Costa (Matt Damon) entra em uma missão para salvar a própria vida, mas que pode trazer de volta a igualdade entre os humanos.

Olhar para aquele favelão latino, que virou Los Angeles no filme é como espiar para além do muro dos condomínios de luxo que vemos hoje em muitas das cidades do Brasil e, claro, em outros países onde a distribuição de renda é desequilibrada. Não à toa, o elenco principal da Terra - exceção feita ao protagonista Matt Damon - é formado pelo mexicano Diego Luna (E Sua Mãe Também), o também sul-africano Sharlto Copley (irreconhecível como um mercenário) e os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura. Em entrevistas recentes, os atores elogiaram o trabalho do diretor em buscar pessoas que entendiam bem o que era aquele cenário de pobreza onde os personagens viviam. Faz parte da sua bem bolada fórmula de mostrar ao mundo o que já está acontecendo hoje, bem debaixo de nossos narizes.

Para criar um vínculo com o público, acompanhamos Max (Damon) desde sua infância - no orfanato onde conhece a personagem de Alice Braga -, seu cotidiano, seu passado e a grande reviravolta, quando tem de encontrar Spider (Moura) para conseguir sobreviver. O brasileiro faz uma mistura de hacker, líder do submundo e "coyote", ajudando pessoas a tentarem entrar na Elysium. 

Quem rouba a cena é Wagner Moura. É sério! Com um personagem escrito de maneira divertida, o brasileiro dá o seu toque pessoal ao trazer expressões completamente lunáticas e trejeitos próprios. Outro destaque é Sharlto Copley, ator sul-africano que repete a parceria de Distrito 9 com Neill Blomkamp. Com seu sotaque carregado e um humor peculiar, ele consegue criar empatia com o espectador, mesmo com o vilão tão sádico. Sua atuação rendeu inúmeros elogios em diversas publicações, incluindo o New York Times, que o classificou como "fantástico" - com justiça.

Elysium pode não concorrer a prêmios e nem entrar em listas de melhores produções do ano. Mas não tem como negar que essa inusitada crítica social rendeu um “filme-pipoca”, que consegue ir um pouco além do que a diversão passageira e alguns agrados visuais. Nos dias de hoje, isso é admirável!


(Trailer legendado do filme)


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