domingo, 2 de fevereiro de 2014

Motivos para ver: Her

Spike Jonze é um homem com uma boa cabeça. Frequentemente no mundo dos curtas-metragens, tinha realizado até hoje 'Being John Malkovich', 'Adaptation' e 'Where the Wild Things Are' e ao 4.º filme conseguiu a sua obra-prima, num argumento maravilhoso totalmente escrito por si. 'Her' é muito provavelmente o Melhor Argumento Original do ano. Ganhou o Globo de Ouro nessa categoria e é pertinente, sensível e inteligente.

Num futuro não muito distante do mundo atual, Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) acabou uma relação recentemente com Catherine (Rooney Mara) e é responsável, numa empresa, por escrever cartas de amor pessoais para pessoas com dificuldades em expressar os seus sentimentos. Theodore é um homem solitário, fechado no seu mundo até ao dia em que compra um sistema operativo com inteligência artificial, projetado com base nas sua personalidade e com a capacidade de evoluir como um ser humano. "Samantha" (voz de Scarlett Johansson) e Theodore desenvolvem uma relação, acabando o OS por aprender progressivamente como são as relações humanas, embora sem nunca ter um corpo que permita que a relação dê um passo determinante. Tudo o resto é cinema, bom cinema, é uma evolução bem pensada, futurista, mas tangível. São sentimentos sem toque e ensinamentos metaforizados.


O intelecto de Spike Jonze permitiu que 'Her' seja tudo: drama, ficção científica, romance e até comédia. É um filme sobre relações humanas e sobre o amor, com Samantha a funcionar na perfeição como a redoma individualizada que a tecnologia nos permite hoje em dia. Pode um homem apaixonar-se por uma máquina? Claro que a esta pergunta de normalmente fácil resposta, importa acrescentar que a máquina tem a voz da Scarlett Johansson.

Apesar de ainda manter um pé no inusitado, o novo filme de Jonze, “Her”, é sem dúvida o filme mais bonito e sensível do diretor. Um belo retrato do difícil ato de se envolver em uma relação e se apaixonar, seja pelo que for, até por um sistema operacional (!)

No elenco, Joaquin Phoenix carrega o filme nas costas, em mais ótimo desempenho e repleto de nuances. Phoenix é sem dúvida o ator que, por merecimento, seria o próximo a ganhar um Oscar de Melhor Ator. Mas não necessariamente por este filme, apesar da fantástica interpretação. Quem também está muito bem, e sem sequer mostrar a cara (ou o corpo) é Scarlett Johansson, no papel de Samantha, o tal sistema operacional da história. Sem seu maravilhoso trabalho de voz, “Her” não funcionaria de jeito nenhum.


“Her”  foi indicado a 5 Oscars, incluindo Melhor Filme e Roteiro Original (escrito pelo próprio Jonze), mas dificilmente levará alguma estatueta para casa. O que não diminui em nada o brilho deste filme belo e poético, que fala de maneira tão bonita sobre a difícil mecânica das relações, sejam elas entre marido e mulher (ou ex-mulher), ou mesmo entre homem e máquina. E principalmente, que mostra que a realização de qualquer indivíduo, independe da natureza de suas relações. Ainda sem conhecer uma única avaliação negativa, "Her" mostra-se já como um dos filmes mais conceituados de 2013. 


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