Spike Jonze é um homem com uma boa cabeça. Frequentemente no
mundo dos curtas-metragens, tinha realizado até hoje 'Being John Malkovich',
'Adaptation' e 'Where the Wild Things Are' e ao 4.º filme conseguiu a sua
obra-prima, num argumento maravilhoso totalmente escrito por si. 'Her' é muito
provavelmente o Melhor Argumento Original do ano. Ganhou o Globo de Ouro nessa
categoria e é pertinente, sensível e inteligente.
Num futuro não
muito distante do mundo atual, Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) acabou uma
relação recentemente com Catherine (Rooney Mara) e é responsável, numa empresa,
por escrever cartas de amor pessoais para pessoas com dificuldades em expressar
os seus sentimentos. Theodore é um homem solitário, fechado no seu mundo até ao
dia em que compra um sistema operativo com inteligência artificial, projetado
com base nas sua personalidade e com a capacidade de evoluir como um ser
humano. "Samantha" (voz de Scarlett Johansson) e Theodore desenvolvem
uma relação, acabando o OS por aprender progressivamente como são as relações
humanas, embora sem nunca ter um corpo que permita que a relação dê um passo
determinante. Tudo o resto é cinema, bom cinema, é uma evolução bem pensada,
futurista, mas tangível. São sentimentos sem toque e ensinamentos metaforizados.
O intelecto de Spike
Jonze permitiu que 'Her' seja tudo: drama, ficção científica, romance e até
comédia. É um filme sobre relações humanas e sobre o amor, com Samantha a
funcionar na perfeição como a redoma individualizada que a tecnologia nos
permite hoje em dia. Pode um homem apaixonar-se por uma máquina? Claro que a
esta pergunta de normalmente fácil resposta, importa acrescentar que a máquina
tem a voz da Scarlett Johansson.
Apesar de ainda manter um pé no inusitado, o novo filme de
Jonze, “Her”, é sem dúvida o filme mais bonito e sensível do diretor. Um belo
retrato do difícil ato de se envolver em uma relação e se apaixonar, seja pelo
que for, até por um sistema operacional (!)
No elenco, Joaquin Phoenix carrega o filme nas costas, em
mais ótimo desempenho e repleto de nuances. Phoenix é sem dúvida o ator que,
por merecimento, seria o próximo a ganhar um Oscar de Melhor Ator. Mas não
necessariamente por este filme, apesar da fantástica interpretação. Quem também
está muito bem, e sem sequer mostrar a cara (ou o corpo) é Scarlett Johansson,
no papel de Samantha, o tal sistema operacional da história. Sem seu maravilhoso
trabalho de voz, “Her” não funcionaria de jeito nenhum.
“Her” foi indicado a
5 Oscars, incluindo Melhor Filme e Roteiro Original (escrito pelo próprio
Jonze), mas dificilmente levará alguma estatueta para casa. O que não diminui
em nada o brilho deste filme belo e poético, que fala de maneira tão bonita
sobre a difícil mecânica das relações, sejam elas entre marido e mulher (ou
ex-mulher), ou mesmo entre homem e máquina. E principalmente, que mostra que a
realização de qualquer indivíduo, independe da natureza de suas relações. Ainda
sem conhecer uma única avaliação negativa, "Her" mostra-se já como um
dos filmes mais conceituados de 2013.
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