Nunca um título nacional, retratou tão bem um filme como
Trapaça, afinal, o longa é realmente uma trapaça com o espectador. Vou explicar
por que. Eu sempre pretendo ser muito sincero,
nas minhas críticas, pois pretendo passar minha impressão
sobre os filmes e não a da crítica e muito menos a das pessoas. Digo isso principalmente, porque os inúmeros prêmios que o
filme vem ganhando, e ainda os elogios por parte da imprensa, dão para o longa
um ar de expectativa enorme, que possivelmente, se tornará frustrante para
alguns ao assisti-lo. Afinal o filme não passa de uma manjada trama policial
com reviravoltas no roteiro, extremamente previsível, igual a alguns que já
cansamos de assistir no cinema. Não há nada de novo nem na forma de narrar,
muito menos na história em si. Contudo, é um filme normal com boas atuações.
O que está seduzindo os críticos e nisso com toda a razão, é
o elenco, principalmente a ala feminina em performances poderosas. David O.
Russell teve um leque de bons artistas para comandar seu show. Ousando com todo
seu charme à flor da pele e vestindo roupas milimetricamente decotadas, Amy
Adams cumpre muito bem sua missão no filme. Jennifer Lawrence, a atual
queridinha de Hollywood, aparece na segunda metade da história e se destaca em
um papel diferente de tudo que já fez na carreira. Eu, particularmente, não sou
fã da atriz, entretanto, tenho que admitir que ela é a grande estrela do filme,
que me permito dizer, está muito melhor do que Amy Adams. Christian Bale, que
interpreta o protagonista, é o responsável pelas cenas mais cômicas ao longo da
fita, méritos desse excelente ator. Jeremy Renner, faz uma breve ponta, mas
também se destaca. O ponto negativo em torno das atuações gira em torno de
Bradley Cooper e seu Richie DiMaso. Exagerado, quase descontrolado, possui
sequências de loucura extrema que não passa um pingo de verdade.
No caso de Trapaça, o diretor além de usar um formato
manjado, ainda carrega nos diálogos extensos e cansativos, principalmente por que eles não são tão
inteligentes e divertidos como se pretendia. Aqui vai meu questionamento, para
quem assistiu o filme: por que ele está sendo rotulado como comédia?
A trama do filme é sobre uma dupla de trapaceiros, Irving
Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams) que são forçados a
cooperar com o FBI num caso de corrupção, que inclui até membros do governo.
Tudo parecia ir bem até que a mulher de Irving, Rosalyn (Jennifer Lawrence) se
envolve na armação e acaba mudando as regras do jogo. A história roteirizada
por O. Russell foi inspirada em Mel Weinberg, um trapaceiro real, que foi
contratado pelo FBI no final dos anos 70 para auxiliar numa operação sigilosa
da instituição.
Apesar do filme não ser tudo que se “pinta”, tecnicamente
ele acaba equilibrando suas escolhas equivocadas, a começar pela direção de
arte deslumbrante que recria o ambiente dos anos 70/80 com detalhes minuciosos
perfeitamente. A edição, atualmente chamada de montagem é o grande trunfo que
consegue dar agilidade para a arrastada narrativa de O Russell. Somado a isso
ainda tem a bela fotografia em tons pastel que dão ao filme o ar retrô
maravilhoso.