Escrever sobre qualquer filme do velho Woody sempre é
um grande drama. Primeiro, porque eu sou muito fã do diretor e da sua
filmografia, e segundo, porque exatamente por gostar muito do diretor nova
iorquino, tenho sérios problemas para criticá-lo, final, que cinéfilo pode criticar
Woody Allen?
Depois de me justificar, tenho que confessar que fui
ao cinema com o seguinte pensamento: “bom, o último filme dele (Blue Jasmine)
foi arrebatador, então, não vou esperando muita coisa não!”. Sim, eu confesso. De
certa forma. Eu não estava enganado, mas o filme foi melhor do que eu esperava.
Em Magia ao Luar, Stanley (Colin Firth) é um mágico
conhecido não apenas pelas suas apresentações como o personagem Wei Ling Soo,
mas por dedicar o resto do seu tempo ao trabalho de desmascarar pilantras.
O pilantra da vez é uma linda jovem chamada Sophie
(Emma Stone), que parece estar se aproveitando de uma família rica com o
pretexto de ser médium. O que vem em seguida acaba sendo mais do que uma
simples investigação e Stanley está para passar por um desafio que pode colocar
em questão sua própria sanidade mental e o conceito de tudo o que acreditou até
hoje.
Stone domina a comédia do filme, suas expressões e
gestos são um charme e sua mistura de ingenuidade e cinismo entregam uma
perfeita golpista. A seu lado, Colin Firth continua sendo o inglês amargo,
entediante, rígido e estranhamente atraente que o tornou o Mr. Darcy perfeito. Os
dois têm química, e Woody Allen lembra porque é, do alto de seu pessimismo, um
gênio das comédias românticas.
Magia ao Luar parece caminhar para uma aceitação do
desconhecido, a permissão da dúvida de que talvez exista um “mundo invisível”,
mas não. Allen pode até permitir que personagens sejam felizes, mas ele jamais
deixará que isso seja conquistado às custas da consciência da crueldade do
mundo. É tudo muito cruel, mas é preciso tentar ser feliz assim mesmo – esse
filme, que é ao mesmo tempo o mais agradável e mais denso da atual fase do
diretor, parece dizer.
É a habilidade em casar a discussão filosófica
complexa com um andamento fluido e piadas divertidas que fez de Woody Allen um
cineasta memorável. Magia ao Luar é, em algum sentido, filosófico, mas embalado
em um ritmo ágil, atores carismáticos e o belo cenário do sul da França. A
sensação ao fim da sessão é de um filme adorável e ao mesmo tempo de grande
esforço mental.
Magia ao Luar, portanto, se caracteriza como a típica diversão
de final de semana. Não é uma obra de arte, mas consegue divertir os
espectadores, O filme é Colin Firth, Woody sabe disso, e claro, aposta no ator
britânico, mas eu ainda senti que falta algo que me ligasse ao filme. Nesse sentido,
eu tenho que admitir que nossa tese inicial teve êxito: depois de Blue Jasmine,
algo não tem memorável assim.