O surgimento das produções cinematográficas
ocorreu entre fins do século XIX e o início do século XX e os historiadores da época
logo tratam de definir os filmes como atrações de feira. Sendo assim, não era louvável que o bom
historiador tomasse como objeto de análise ou como fonte de pesquisa um produto
que era considerado pelos intelectuais da época como um truque, uma falsificação,
uma invenção humana. Naquele tempo a produção histórica ainda se valia do método
positivista na pesquisa e ainda defendia o seguinte lema: eis minhas referências,
minhas hipóteses e minhas provas.
Entretanto, também no início século XX
a historiografia passou por um momento de transformação, motivado
principalmente pelo surgimento do movimento dos Annales
na França, liderado por Marc Bloch e
Lucien Febvre. A Escola dos Annales trouxe à tona novos objetos de estudo, novas
fontes e novas interpretações para assuntos outrora consagrados pela
historiografia tradicional. Através desta abertura as produções cinematográficas
começaram a ganhar espaço como objeto de análise do historiador. A partir de
novas leituras o cinema passa a ser visto como um instrumento adepto da história
ou até mesmo como um registro da própria.
É interessante percebermos as mudanças sofridas na
história no que diz respeito às novas fontes utilizadas pela historiografia
contemporânea, fontes essas que se diferenciam muito das fontes “oficias”
da historiografia tradicional. A nova historiografia nos dá o poder de
elegermos novas fontes, e uma dessas fontes que foram apropriadas nessa nova
história é o cinema.
Ao utilizar o cinema como fonte para a pesquisa e a
analise historiográfica dentro ou fora de sala de aula, nós historiadores ou
professores de historia devemos levar em consideração algumas questões com
relação a obra cinematográfica. Um dos pontos que deve ser levado em
consideração é a questão de que o filme não nasce com a intenção de colocar-se
como fonte ou documento histórico, é preciso lembrar que o filme é uma obra
ficcional, mas que como qualquer produção humana é dotada de uma carga
discursiva e de intencionalidade, e cabe a nós pesquisadores da história tentar
perceber até que ponto vai a obra de ficção e como o historiador pode
apropriar-se dos discursos presentes na obra para analisar tal obra como fonte.
Ao eleger o filme como fonte e lembrar que a obra
não se coloca como tal e cabe ao pesquisador torná-la uma fonte, é nesse
processo que o historiador tenta fazê-la falar. Devemos primeiro perceber qual
o recorte temporal que essa obra retrata, se for uma obra em que o recorte seja
contemporâneo a sua produção, cabe ao pesquisador a partir de seu interesse
analisar a obra como sendo não um retrato fiel da sociedade que ele retrata,
mas como sendo uma faceta desta.
Por: Leonam Monteiro
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