Todos os anos, um dos eventos mais aguardados pelas pessoas que adoram
cinema é o Oscar. A premiação ocorre anualmente desde 1929 e premia os melhores
profissionais da indústria cinematográfica, entre atores, diretores e
roteiristas.
Os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas se reúnem
e votam para eleger quem se destacou no cinema, no ano que passou. Muitas vezes
as escolhas são consideradas infelizes, visto que um ator, atriz ou diretor se
destacou muito mais no papel que representou ou em seu trabalho do que os
ganhadores da estatueta.
Apesar de existirem cerca de trinta categorias de premiação atualmente, a que
mais gera polêmica e também a mais aguardada todos os anos é a de melhor filme.
Normalmente, em função do burburinho, já se imagina qual será o grande vencedor
antes mesmo do esperado “The Oscar goes to...”. Porém, algumas vezes um filme
que tinha tudo para ganhar acaba sendo deixado de lado e a estatueta vai para
uma produção considerada inferior.
É até estranho pensar que algumas produções consideradas verdadeiras obras
primas do cinema, não foram agraciadas com o prêmio mais importante da
cerimônia. Mas sim, isso já aconteceu repetidas vezes e muitos profissionais da
indústria cinematográfica, além dos críticos especializados, não conseguem
conceber que alguns filmes não tenham garantido o prêmio mais cobiçado da
noite. Particularmente, o Oscar, não é um Berlinale ou um Festival de Cannes,
que na minha opnião, são festivais sérios e que premiam, de fato, bons filmes,
atores e diretores. Mas tem sua relevância e por isso o espanto de alguns
críticos, cinéfilos e até mesmo leigos que gostam de cinema.
Tempos Modernos – Charles
Chaplin – 1936
Este foi o último filme mudo lançado por Charles Chaplin e é considerado por
muitos um marco na história do cinema. Apesar de sua grande importância, o
filme não conquistou o prêmio máximo do Oscar e chegou inclusive a ser proibido
na Itália e na Alemanha, quando os ditadores estavam no poder, por considerarem
que o filme era socialista.
Charles Chaplin realizou diversos filmes excelentes, aclamados por
espectadores e pela crítica especializada. Infelizmente, nunca subiu ao palco
do Kodak Theater para receber uma estatueta pelo melhor filme.
Nem mesmo as obras-primas do cinema mudo Luzes da Cidade, Tempos
Modernos e Em Busca do Ouro fizeram com que a Academia enxergasse
Chaplin. Ele permaneceu ignorado até 1972, quando recebeu uma estatueta pelo
conjunto de sua obra. Antes disso, só recebeu prêmios menos importantes, como o
Oscar de Melhor Trilha Sonora por Luzes da Ribalta.
Cidadão Kane – Orson Welles – 1941
Chega até ser engraçado e inacreditável afirmar que Cidadão Kane não
conquistou o Oscar de melhor filme quando foi lançado. E isto se deve ao fato
de esta produção dirigida por Orson Welles ter sido um verdadeiro marco na
história do cinema. Quando são feitas listas com os nomes dos melhores filmes
de todos os tempos, além daqueles que são obrigatórios para quem gosta de
cinema, Cidadão Kane sempre figura entre as primeiras posições. Infelizmente,
os membros da Academia não enxergaram toda a maestria desta produção
cinematográfica. A obra-prima de Orson Welles estava, realmente, muito à frente
de seu tempo, com um enredo diferenciado e enquadramentos jamais experimentados
em outros filmes. O diretor teve que se contentar com o prêmio de melhor
roteiro original na cerimônia.
Cantando na Chuva – Gene Kelly –
1952
O musical estrelado por Gene Kelly e Donald O’ Connor conta com sequências
de música e dança inesquecíveis até os dias de hoje. Até os mais jovens já
devem ter ouvido falar, ou assistido, a famosa cena protagonizada por Kelly que
dá nome ao filme, na qual ele dança e canta alegremente sob a água que cai dos
céus. Infelizmente a Academia, e nem mesmo seus produtores, previram que o filme
se tornaria o clássico que é hoje. A produção cinematográfica só contou com
indicações para trilha sonora e melhor atriz coadjuvante. O American Film
Institute, por outro lado, incluiu a película na lista dos 25 maiores musicais
de todos os tempos.
Janela Indiscreta – Alfred Hitchcock – 1954
O diretor Alfred Hitchcock, ao longo de sua carreira, recebeu o apelido de
mestre do suspense, tamanhas as emoções à flor da pele que seus filmes
proporcionavam aos espectadores. A publicação The Screen Directory, bastante
conceituada no mundo do cinema, classificou o cineasta como o maior diretor de
todos os tempos. Apesar de ter recebido diversas indicações ao Oscar de melhor
diretor e de melhor filme, Hitchcock nunca teve o prazer de segurar a tão
cobiçada estatueta. Janela Indiscreta é considerado por muitos especialistas o
melhor filme de Hitchcock e a produção sempre figura entre as primeiras
posições nas listas de filmes que devem obrigatoriamente ser assistidos.
Um Corpo que Cai – Alfred Hitchcock
– 1956
A discussão costuma levantar polêmica. Enquanto alguns cineastas e críticos
especializados acreditam que Janela Indiscreta é o melhor filme dirigido por
Alfred Hitchcock, outros afirmam com veemência que Um Corpo Que Cai é a obra
prima máxima do mestre do suspense. Seja como for, os dois filmes devem
obrigatoriamente ser vistos por quem gosta de cinema e, infelizmente, nenhuma
das produções foi agraciada com o prêmio máximo da Academia.
Na película, James Stewart dá vida ao personagem Scottie, um detetive com medo
de altura que é contratado por um amigo da faculdade para investigar a esposa
dele que tem tendências suicidas. Depois de salvá-la de uma situação perigosa,
o detetive começa a ficar obcecado pela misteriosa mulher.
Ignorado pela Academia durante vários anos, a única estatueta que o diretor
conseguiu foi o prêmio Irving Thalberg, pelo conjunto da obra, em 1967. Para se
ter uma ideia, o revolucionário Os Pássaros, de 1963, foi derrotado na
categoria de efeitos especiais por Cleópatra. Já o clássico Psicose
perdeu para Se meu Apartamento Falasse o prêmio de Melhor Filme, em
1960.
Laranja Mecânica – Stanley Kubrick – 1971
Stanley Kubrick dirigiu diversos filmes que hoje são considerados clássicos
e verdadeiras obras-primas do cinema. No entanto, o célebre diretor nunca
recebeu um Oscar sequer de melhor filme.
Depois do igualmente clássico 2001, Uma odisséia no espaço, Kubrick decide
cutucar a onça com vara curta, no caso a sociedade, com críticas severas a
respeito da violência e brutalidade. No filme, Malcom McDowell interpreta o
protagonista Alex de Large, líder de uma gangue que sente prazer ao espancar,
estuprar e matar. Nada é suficiente para os jovens viciados em leite drogado,
que estão sempre maltratando alguma pessoa indefesa. Em determinado momento Alex
é finalmente capturado pela polícia e vai participar de um programa de
reabilitação, criado para que ele não tenha mais impulsos destrutivos em seu
corpo e mente. Quando o jovem se vê livre do tratamento de choque e volta à
realidade, precisa lidar com os indivíduos que maltratou no passado.
Taxi
Driver – Martin Scorsese – 1976
Até os dias de hoje há muita polêmica em torno desta produção
cinematográfica, que perdeu a estatueta de melhor filme para Rocky, escrito e
estrelado por Sylvester Stalone. Críticos especializados e cineastas acreditam
firmemente que Taxi Driver, de longe um dos melhores filmes de Scorsese, é
infinitamente superior ao filme que conta a história de um lutador de boxe. E
se a cerimônia do Oscar daquele ano levanta polêmicas, a película mais ainda,
visto que as cenas de violência são bastante realistas.
O tal motorista de taxi que dá nome ao filme é Travis (interpretado por Robert
De Niro). O protagonista trabalha durante a noite, pois sofre de insônia, e
durante as horas que passa dentro do taxi ele precisa lidar com prostituição e
violência, sempre presentes quando as luzes se apagam. Como a revolta toma
conta de si, Travis acaba por matar violentamente um homem e fica obcecado em
salvar uma jovem prostituta menor de idade (interpretada por Jodie Foster), que
entra no taxi para fugir de seu cafetão.
Além de ver o filme de Stallone derrotar Taxi Driver em 1976,
Martin Scorsese sequer foi indicado ao prêmio de Melhor Diretor por um de seus
mais brilhantes trabalhos. Essa, porém, não foi a única injustiça sofrida pelo
diretor. A Academia também o ignorou em Touro Indomável, Os Bons
Companheiros e em outras três oportunidades. Scorsese só foi premiado na
categoria de direção em 2007, por Os Infiltrados.
Apocalypse
Now – Francis Ford Coppola – 1979
O filme dirigido com maestria por Francis Ford Coppola quase não chegou às
telas de cinema. Isto porque a produção cinematográfica era tida como loucura
por parte dos funcionários que trabalhavam com o diretor.
De qualquer forma, os apaixonados por cinema e os críticos cinematográficos
acreditam que o filme é uma obra-prima e um dos melhores filmes que contam com
a direção de Coppola. Para variar, os membros da Academia não consideraram que
a produção merecia um Oscar de melhor filme. Por outro lado, publicações
consagradas, além da crítica especializada, avaliaram por diversas vezes o
filme como uma das melhores produções de guerra de todos os tempos.
Gwyneth Paltrow x Fernanda
Montenegro - Melhor Atriz
O Oscar de 1999, para mim foi o que mais houve injustiças. Shakespeare
Apaixonado ganhando Melhor Filme no lugar de Resgate do Soldado Ryan,
Judi Dench ganhando um Oscar por seus 10 minutos de aparição e outros. Mas a
maior injustiça do ano, foi Gwyneth Paltrow ganhando o Oscar de Melhor Atriz no
lugar de Fernanda Montenegro, que tinha a melhor atuação dentre as indicadas.
As duas disputaram também o Oscar com Emily Watson, Meryl
Streep e Cate Blanchett, então, se fosse para roubar um Oscar mesmo, que
roubasse de uma melhor forma.
O prêmio foi injusto não só porque naquele ano Fernanda Montenegro concorria
à estatueta por sua belíssima atuação em Central do Brasil. É que Cate
Blanchett e Meryl Streep também haviam sido indicadas por Elizabeth e Um
Amor Verdadeiro, respectivamente. Com três nomes de tanta qualidade na
disputa é no mínimo de se estranhar que a Academia tenha optado por Gwyneth
Paltrow em Shakespeare Apaixonado…